Construir a cidade a partir dos espaços públicos
Por Elson Pereira*
Ontem
participei de uma audiência pública sobre um projeto de urbanização do
bairro Griffitown, em Montreal. Trata-se do primeiro bairro popular da
cidade, portuária e Industrial em sua formação histórica.
Formado em sua origem
principalmente por imigrantes irlandeses, o bairro ainda contava com
franceses, ingleses e escoceses até meados do século XX. O bairro era
dinâmico, até que na década de sessenta, quando as Indústrias já se
deslocavam para a periferia da cidade, a prefeitura criou uma lei de
zoneamento determinando no local como uma área exclusivamente
industrial: estava decretada a decadência do bairro.
Encostado na parte central de
cidade, com forte pressão imobiliária, o bairro recebe várias propostas
de novas construções corporativas. A pequena população que ainda resta e
os vários movimentos sociais da cidade (habitação social,
ambientalistas etc) buscam algum meio de garantir que o bairro não se
transforme num anexo do centro comercial de Montreal. Neste contexto, o
órgão responsável pela participação da população sobre questões
urbanísticas (Office de Consultation Publique de Montreal) organizou
dois dias de encontro para colocar diante da população os vários
interesses envolvidos. Vou parar aqui a minha descrição do processo para
me ater sobre um (o) aspecto que me chamou atenção durante
praticamente todas as falas e que deve ser resgatado no debate sobre as
cidades brasileira: o espaço público ou espaço de vida.
Em nossas cidades, e
Florianópolis é um exemplo emblemático, a construção do espaço se dá de
forma aditiva: cada empreendedor, particular ou corporativo, constrói em
seu terreno individual; sua construção soma-se àquelas que estão
próximas e o que sobra é o espaço público. Nenhuma preocupação com o
entorno, seja o edifício ao lado ou a rua à frente; os novos
empreendimentos, principalmente os coletivos e de padrão médio e alto,
se voltam para o seu interior, criando verdadeiros oásis para seus
moradores. A cidade pouco importa. Os gestores públicos tradicionais,
por sua vez, reproduzem esta lógica aditiva pois estão comprometidos e
imbuídos desta visão de cidade. É preciso gestores comprometidos com a
construção de uma cidade inclusiva para que esta lógica seja mudada.
A discussão em Montreal girava em torno de uma questão central: como os edifícios, cada um em particular e em seu conjunto, podem contribuir para um espaço de vida dinâmico e de qualidade? Alguns princípios pereciam ser quase unânimes: os edifícios devem ter uma clara relação com a rua, procurando ser mistos em sua ocupação (comércio, escritórios, residências); evitar paredes cegas ou entradas de garagens (térreo ou andares acima dele reservados a carros, nem pensar); por ser uma área central, é preciso uma certa densidade, mas deve-se evitar construções acima de seis ou oito andares.
A mobilidade deve ser pensada através do transporte público ou de bicicleta; os pontos de ônibus ou estações de metrô devem estar no máximo a cinco minutos de caminhada. Espaços devem ser reservados para praças e parques; o acesso aos cursos d'água (tem um canal que era utilizado pelos estaleiros na época da industrialização) deve ser garantido a toda população. A caminhabilidade (possibilidade de todos, mesmo aqueles com mobilidade reduzida, caminharem) deve ser garantida através de calçadas largas, bem pavimentadas e com acessibilidade universal (cadeirantes, carrinhos de bebês etc, não devem ter dificuldades). Enfim, princípios que no Brasil ainda precisam ser conquistados através de muita luta, como se fossem direitos extraordinários. Longe de querer exportar idéias do Canadá para o Brasil ( que seriam idéias fora do lugar), o que queremos é trazer para o debate novas possibilidades para nossa cidade.
A discussão em Montreal girava em torno de uma questão central: como os edifícios, cada um em particular e em seu conjunto, podem contribuir para um espaço de vida dinâmico e de qualidade? Alguns princípios pereciam ser quase unânimes: os edifícios devem ter uma clara relação com a rua, procurando ser mistos em sua ocupação (comércio, escritórios, residências); evitar paredes cegas ou entradas de garagens (térreo ou andares acima dele reservados a carros, nem pensar); por ser uma área central, é preciso uma certa densidade, mas deve-se evitar construções acima de seis ou oito andares.
A mobilidade deve ser pensada através do transporte público ou de bicicleta; os pontos de ônibus ou estações de metrô devem estar no máximo a cinco minutos de caminhada. Espaços devem ser reservados para praças e parques; o acesso aos cursos d'água (tem um canal que era utilizado pelos estaleiros na época da industrialização) deve ser garantido a toda população. A caminhabilidade (possibilidade de todos, mesmo aqueles com mobilidade reduzida, caminharem) deve ser garantida através de calçadas largas, bem pavimentadas e com acessibilidade universal (cadeirantes, carrinhos de bebês etc, não devem ter dificuldades). Enfim, princípios que no Brasil ainda precisam ser conquistados através de muita luta, como se fossem direitos extraordinários. Longe de querer exportar idéias do Canadá para o Brasil ( que seriam idéias fora do lugar), o que queremos é trazer para o debate novas possibilidades para nossa cidade.
*Elson Manoel Pereira é
engenheiro civil e professor de planejamento urbano do curso de
graduação em geografia e nos cursos de pós-graduação em Urbanismo e em
Desenvolvimento Regional e Urbano da UFSC. Em janeiro de 2012 foi
indicado pré-candidato a prefeito em Florianópolis pelo PSOL.
L.A. deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Existe vida inteligente entre os candidatos a pref...": Acima de tudo a abertura ao diálogo e a possibilidade de real democracia na discussão do Plano Diretor de Florianópolis. Bom candidato!
Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Existe vida inteligente entre os candidatos a pref...": Sugiro que o inteligente articulista faça todos os seus dslocamentos na capital, de bicicleta, como propõe. Uma maravilha, numa cidade de terreno acidentado e um trânsito que, para o ciclista, não precisa qualquer comentário. Sugiro que se desloque diariamente pelo centro, do Centro para a UFSC, de volta para o Centro, para o Estreito ou Coqueiros e Capoeiras e faça um breve relato de sua experiência, se sobreviver. Transporte diário de bicicleta não é andar de bicicleta sobre uma ciclovia daqui até ali.
L.A. deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Existe vida inteligente entre os candidatos a pref...": Acima de tudo a abertura ao diálogo e a possibilidade de real democracia na discussão do Plano Diretor de Florianópolis. Bom candidato!
Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Existe vida inteligente entre os candidatos a pref...": Sugiro que o inteligente articulista faça todos os seus dslocamentos na capital, de bicicleta, como propõe. Uma maravilha, numa cidade de terreno acidentado e um trânsito que, para o ciclista, não precisa qualquer comentário. Sugiro que se desloque diariamente pelo centro, do Centro para a UFSC, de volta para o Centro, para o Estreito ou Coqueiros e Capoeiras e faça um breve relato de sua experiência, se sobreviver. Transporte diário de bicicleta não é andar de bicicleta sobre uma ciclovia daqui até ali.
Canga,
ResponderExcluirSe isto é vida inteligente, então vai ser difícil a campanha. Aqui na Rua Pau de Canela, asfaltaram, mas nem calçada construíram.
O Elson mora aqui no Campeche?