quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Baineu

Baineu era o nome do primeiro ônibus a fazer a linha internacional entre Quaraí (Brasil) e Artigas (Uruguai), fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Baineu era o apelido carinhoso que demos ao ônibus de madeira e placas de um material tipo eucatex. O "guarda" Rubim, meu pai, era sócio da única empresa de ônibus que existia lá e que fazia essa linha. 
O Baineu partia da frente do hospital que ficava atrás do quartel. Descia toda a Av. Professor José Diehl, a rua principal, dobrava à direita na General Canabarro, descia na rua do Porto e imbicava para a Planchada rumo ao Uruguai. 
A Planchada era uma ponte estreita de hormigón, sem varandas, que ligava as duas cidades. Qualquer chuva um pouco mais forte já tapava, como dizíamos, a Planchada. Aí o recursso era varar o Rio Quaraí de "bote". Pequenos barcos de madeira que faziam a travessia entre as duas cidades.
Diziam que Quaraí era a única cidade do mundo que quando chovia para cima tapava a Planchada. Na verdade chover para cima era chover na nascente do Quaraí, lá pelas bandas de Santana do Livramento.
Acabei divagando e esqueci do Baineu. Quando saia do Grupo Escolar Brasil pegava o Baineu no primeiro ponto perto do colégio e ía até o ponto final de Artigas. Tinha assento previlegiado, bem na frente, afinal era filho do dono. Tinha um cobrador, o Correia, que me chamava de Brizola. Já gostava de política na época e era correligionário do engenheiro Leonel. O Davi, motorista, me chamava de projeto. Projeto de gente. Magro, pequeno e metido a gente.
Quando voltava de Artigas descia em um ponto a uma quadra de casa. Mas a melhor parte da história era à noite quando os cobradores chegavam em casa para entregar os bocós. Alforges de couro cheios de pesos uruguaios, cruzeiros, cédulas e moedas. Arredávamos a mesa da sala e despejávamos aquele monte de dinheiro no tapete para contar e selecionar. Era uma festa! Um tesouro que manipulávamos todos os dias. Meus pais, meus irmãos e eu.
Várias vezes me lembrei do Baineu. Sempre me perguntei porque Baineu? De onde havia saido esse nome? Há pouco tempo descobri que o nome era um aportuguesamento, à la Quaraí, de By New. A marca do Baineu.
Hoje, casualmente, pesquisando na internete descobri uma foto do Baineu na Planchada. Um tesouro para mim. 
 
Ana Maria deixou um novo comentário sobre a sua postagem "O Baineu":

Canga querido. Muito legal " te ler" e saber de coisas do Quaraí. Confesso que não lembro desse nome " Baineus" mas acho que é porque sou beeeemmmm
mais moça que tu...ehehehe. Minhas recordações de transporte coletivo chegam até o Nystron. Vou conversar com meu pai pq, certamente, ele terá mais histórias dessa linha internacional já que conta muitas peripécias desse convívio bi nacional e as noites castelhanas onde tem por testemunha a velha planchada.
Um abração. Ana Jorgens

2 comentários:

  1. Taí, gostei!

    Que tal juntarmos seu know-how em transportes e a minha de revolucionar o meio para criarmos uma frota de "baineus"?

    Ao tempo em que (e já se vão mais de 30 anos) que nada é ou foi investido em transporte coletivo na cidade - hoje temos o PIOR sistema de transportes das 3 capitais do sul, por conta da falta completa de políticas voltadas para o setor; pois enquanto priorizaram nesse período abertura de ruas, avenidas, asfaltamento, viadutos, etc; tivessem aplicado parte de tudo o que foi gasto fora as propinas, no desenvolvimento de um projeto voltado para as nossas reais necessidades de locomoção, teríamos com certeza muito menos problemas de trânsito do que temos nos dias de hoje.

    Sempre foi dito que o transporte integrado nos moldes do que vemos hoje em cidades como Curitiba não dariam certo em Florianópolis por conta e culpa de nossa geografia, na verdade só passou de balela e papo para quem de alguma forma quis se aproveitar da situação.

    Posso dar como testemunho, para não irmos tão longe, da experiência bem sucedida de Blumenau (que tem geografia bastante parecida com a nossa, com muitos morros, ruas estreitas, etc.), onde tudo o que hoje há em matéria de transporte integrado, foi sendo implementado aos poucos, de acordo com as necessidades e usos da população. Blumenau hoje tem cerca da metade da população da Capital, conta com 6 terminais perfeitamente interligados entre sí e com os bairros que os circundam. E já há estudos em andamento para a construção de mais 2 terminais! Em todas as cidades onde foi pensado e aplicado esse tipo de transporte, foi assim, aos poucos.

    Florianópolis, ao contrário, não! Foi tudo feito de uma vez só, megalomaníaco, sem nenhum tipo de estudo mais aprofundado, de origem e destino, com terminais construídos em locais inapropriados, etc.

    Para encurtar: Porto Alegre tem um orgão com "status" de secretaria em que tudo relacionado ao trânsito (ônibus, taxis, o trânsito em sí, semáforos, etc) é tratado por ela. Chama-se EPTC - Empresa PÚBLICA de Transporte e Circulação.

    Curitiba também tem algo parecido. Chama-se URBS - Urbanização de Curitiba.

    Blumenau ídem com a sua SETERB - Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transportes de Blumenau.

    Florianópolis tem o que mesmo? IPUF? SMTT? Deve ser algo parecido com Secretaria Municipal do Cabo de Guerra... cada um puxando para um lado e a cidade, óh...

    Em tempo: antes que saiam me criticando, sou manezinho da Carmela Dutra e lamento e muito tudo o que já fizeram contra a nossa cidade. Não merecemos!

    Sandro Rohden

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  2. Canga querido. Muito legal " te ler" e saber de coisas do Quaraí. Confesso que não lembro desse nome " Baineus" mas acho que é porque sou beeeemmmm
    mais moça que tu...ehehehe. Minhas recordações de transporte coletivo chegam até o Nystron. Vou conversar com meu pai pq, certamente, ele terá mais histórias dessa linha internacional já que conta muitas peripécias desse convívio bi nacional e as noites castelhanas onde tem por testemunha a velha planchada.
    Um abração. Ana Jorgens

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