terça-feira, 7 de junho de 2011

A Vó Zunga partiu

    Altiva Correia da Rosa, a Vó Zunga, era a Parteira mais antiga de Quaraí (RS). "Avó" de mais da metade do município, Vó zunga faleceu ontem (6), aos 96, em Porto Alegre.

    Eu e meus quatro irmãos nascemos pelas suas mãos. Era prima da minha mãe. Tenho por ela um carinho muito especial. Baixinha, enérgica, rápida, sempre esteve pronta para me defender quando tinha alguma conta para acertar com meu pai. Morava na rua atrás da nossa casa, em Quaraí. 

    Não foram poucas as vezes que varei os fundos de quintal de vários vizinhos para me abrigar na casa da Zunga e do "Tio" Rozinha. Quadras de 150 metros, as casa eram de frente para a rua e tinham grandes quintais com árvores e mato. Terreno dominado, pois sempre andava por ali criando trilhas, "atalhando" para ir a alguma venda  fazer "mandado", ou caçando passarinho e periá.

    As perdas sempre nos deixam triste. Mas pela primeira vez, vejo como verdade uma coisa muito comum das pessoas falarem quando morre alguém: "descansou finalmente".

    Estive com a Vó Zunga ano passado em Porto Alegre. Tinha seu apartamento na rua Farrapos, mas nos últimos tempos estava morando no edifício Alagio, há poucas quadras dali, com a tia Antônia. Conhecia a todos nas redondezas. As vezes inventava alguma coisa para fazer, e saía à noite, a pé, até seu apartamento.

- As gurias me cuidam, dizia.
    As gurias a que Vó zunga se referia, eram as moças de fino trato que trabalhavam à noite na esquina da Avenida Farrapos. As vezes a acompanhavam. A conheciam pelo nome.
    Os nosso encontros sempre eram de alegria. Me perguntava coisas que me fazia rir. Sempre me tratando como um guri levado, lembrava de molecagens minhas de infância, o que fazia a conversa render um bom tempo.

    Na última vez em que nos vimos escutei ela falar:

- Meu deus! Quanto tempo mais eu vou durar Sergio Antonio?

    Achei estranho, a princípio, ouvir uma pessoa desejando morrer. Aos seus 96 anos, a Vó Zunga estava cansada de viver. Isso não fez dela uma pessoa amarga, talvez mais quieta um pouco, mas nunca triste. Com excelente saúde, pessoas queridas por perto, mas alguma coisa tinha ido embora. Não sei o que. Talvez a "pegada" da vida!
    
    Estranho era ver uma pessoa que passou a sua existência dedicada a trazer vida à vida, de repente desejar a morte. Mas talvez por isso mesmo, pelo seu trabalho com a vida, que é a outra ponta da morte, tratasse do assunto com tanta naturalidade.

Tchau Vó Zunga!

L.A. deixou um novo comentário sobre a sua postagem "A Vó Zunga partiu": Bela homenagem! Aos de vida, no além vida... 

Um comentário:

  1. Deixa belíssimo exemplo e lembranças.Certamente garantiu o terreno dela no céu.

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