Por Edison da Silva Jardim Filho
Cruzei, na rua, anteontem, em Florianópolis, com o meu contemporâneo de faculdade de direito na UFSC, e leitor dos meus artigos, para honra minha, o advogado Júlio Cézar Sampaio Teixeira, que, logo de cara, perguntou-me: “- Você não vai escrever sobre o Palocci?” Respondi-lhe que a política e os políticos nacionais já são objeto da grande e independente imprensa escrita brasileira, principalmente a das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, e dos seus afamados jornalistas, que são articulistas e colunistas. E que eu considerava que pisava em terreno mais seguro- devido às minhas naturais limitações- e utilitário, se tratasse, em meus artigos, dos Paloccis de Santa Catarina, que não são poucos nem menos deletérios.
Despedi-me do meu amigo e fui comprar o jornal “Folha de S.Paulo”. Ao abri-lo, no meu escritório, eis que me deparo com uma entrevista de duas páginas do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, transcorridas três semanas desde que uma reportagem da “Folha de S.Paulo” noticiou que ele multiplicara o patrimônio por 20 nos últimos quatro anos; que a sua empresa de “consultoria”, a “Projeto”, faturou, em 2010, R$ 20 milhões, sendo que mais da metade desse valor foi recebido após a eleição da presidente Dilma Rousseff, quando desempenhava a função de coordenador-geral da transição de governo; e que adquiriu, recentemente, dois luxuosos imóveis na capital do Estado de São Paulo: um apartamento pelo preço de R$ 6,6 milhões e um escritório por R$ 882 mil. Ao longo da entrevista de Palocci, em que a “confidencialidade” das relações entre as empresas privadas contratantes e a sua “consultoria” era a sistemática e monocórdica desculpa para deixar de responder, objetivamente, às perguntas chaves que elucidariam, de vez, o caso, deparei-me com a indagação e a resposta que, para mim, descortinavam a natureza lobística do trabalho que ele realizara. Pensei com os meus botões: esse bem que pode ser o assunto do artigo que escreverei amanhã, se a “Folha de S.Paulo” de domingo e nenhum dos seus articulistas acusar a descoberta. Logo cedo, ontem, comprei o jornal “Folha de S.Paulo”. Os editoriais da contracapa não abordavam o assunto. Li os artigos do Clóvis Rossi, da Eliane Cantanhêde, do Janio de Freitas, e o belíssimo texto de Elio Gaspari, sobre um imaginário e-mail do ex-ministro do Planejamento, Celso Furtado, endereçado ao atual ministro da Casa Civil, e nada. Nas reportagens, também não havia menção a ele. A pergunta, a que me refiro, era a seguinte: “O sr. poderia detalhar como era o trabalho de consultoria da Projeto?” E a resposta de Palocci: “Na época da crise econômica, em 2008, havia no mercado muitas empresas contratando créditos com cláusula cambial, contratos em dólar. Isso eu conversei com praticamente todas as empresas com que eu tinha contratos. Dado que tinha uma crise, eu sugeri a essas empresas que elas estavam correndo muito risco fazendo contrato de câmbio na medida que, com a evolução da crise, os níveis cambiais poderiam ficar muito voláteis.”
Ora, ora! Todas as empresas que contrataram os serviços de “consultoria” de Palocci, eram e só podiam ser grandes empresas (os nomes de algumas delas já apareceram no noticiário: a empreiteira Camargo Corrêa, a construtora WTorre, e os bancos Safra e Pactual). E é sabido que qualquer uma empresa de grande ou médio porte tem, hoje, em seus quadros, economistas extremamente preparados, a maioria esmagadora com mestrado, doutorado e pós doutorado obtidos em universidades renomadas dos Estados Unidos e dos principais países da Europa. Contratar, a peso de ouro, um médico sanitarista que, antes de ser ministro da Fazenda, foi prefeito de Ribeirão Preto, para dizer a empresários poderosos e experientes, durante a crise econômica mundial de 2008, que era melhor terem prudência na “contratação de créditos com cláusula cambial”, ou seja, ao firmarem contratos cuja execução ficaria à mercê de variação do preço de moeda estrangeira?... Eu não tenho nenhum trato com a economia, nem mesmo com a mais trivial, mas não sou idiota, e sei, com a mesma segurança que, olhando pela janela do meu escritório, digo se o dia está ensolarado ou chuvoso, que nenhuma grande ou média empresa brasileira contrataria o ministro Palocci para emitir tal parecer.
Augusto J. Hoffmann deixou um novo comentário sobre a sua postagem "DE PALOCCI EM PALOCCIS": Essa foto do doutor consultoria é emblemática. Estaria ele pensando nas diferenças entre formigas e cigarras? Pois acabou de representar aquele inseto que passa o verão a cantar, pedindo comida prá formiga, no frio.
Diego Wendhausen Passos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "DE PALOCCI EM PALOCCIS": Sobre a empresa WTorre, a única referência que tenho dela é em relação as obras na nova Arena do Palestra Itália, estádio do Palmeiras. Por pouco, a empresa ficou sem a obra, devido a problemas com a direção palmeirense.
Porém, a direção do clube paulista, comandada por Arnaldo Tirone, aliado do nefasto Mustafá Contursi, é de caráter questionável, e não é digna de confiança.
Quanto a empreiteira, foi contratada pelo ex-presidente e economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que saiu antes do final do mandato por problemas de saúde, deixando o zero a esqueda do Salvador (das desgraças) Palaia, um péssimo funcionário para uma agremiação esportiva. Em relação a aspectos morais e éticos, não tenho referências sobre eles.
Comentário: Muito interessante o texto. Do ponto de vista analítico, poderia lembrar que o médico-economista Palocci tem profundas ligações com o mundo dos espíritos, entidades que lhe auxiliam na percepção antecipada dos fatos. E claro, neste mundo neoliberal, até os espíritos já estão cobrando. E, às vezes, não têm a exata noção dos preços.
Hamilton Garcia
Canga
ResponderExcluirA Folha de São Paulo, O Globo e Veja já não podem ser consideradas bons veículos para ficarmos sabendo do que rola no mundo. Nos últimos meses estes veículos já divulgaram várias matérias que foram desmentidas nas primeiras investigações ou através ou através dos próprios concorrentes.
Exemplo interessante foi a revista Época alardear que a Presidente Dilma estaria muito mal de saúde, motivo pelo qual osmédicos que a assistem terem vindo a público desmentir a notícia e ao olharmos a relação de medicamentos divulgada por eles encontramos Novalgina, descongestionante nasal e remédio para hipotireoidismo.
Quando a Folha divulgou o caso do Sr Palocci, esta já sabia até a lista das empresas que contrataram o agora Ministro, mas preferiu só divulgar o caso.
O caso do Sr Palocci é semelhante ao ocorrido com vários ex ocupantes de ministérios de governos passados e não existe nenhuma lei que impessa deles trabalharem em consultorias quando estiverem fora do governo.
Hoje ocaso do Sr Palocci foi julgado pelos ministros da PGR e foi arquivado por falta de provas.
O que este País precisa é de legislação que os coloque em quarentena por 2 a 3 anos assim que deixem estes cargos.
Já houve uma tentative de um projeto de lei, ciado no governo passado mas foi bombardeado pela oposição.
Acho melhor você rever suas fontes.