Por Marcos Bayer
Poucos sabem, mas dois dos maiores cantores de ópera do mundo, ambos espanhóis, um madrileno outro catalão, têm uma história para contar.
Plácido Domingos e José Carreras. Detectada a leucemia, Carreras gastou sua fortuna em tratamentos contínuos e mensais nos Estados Unidos.
Quando já não tinha mais condições, soube de uma fundação em Madrid que amparava doentes similares.
Com apoio financeiro da Fundação Formosa, curou-se e voltou a cantar. Recuperado, descobriu que a entidade fora criada por Plácido Domingos, seu adversário político desde 1984, devido à rivalidade Madrid x Barcelona.
Quando soube do gesto foi ao encontro do concorrente, rival e adversário para manifestar sua gratidão.
Plácido Domingos, perguntado anos depois da razão do gesto, disse: Uma voz como aquela não podia perder-se...
Nas nossas relações diárias, num mundo cada vez mais ágil e virtual, atitudes como as dos dois tenores ensinam e enriquecem a condição humana.
Houve um tempo em que amigos eram amigos e se ajudavam. Adversários se reconheciam e se respeitavam. Guerreiros se identificavam não só por suas capacidades ofensivas, mas por suas qualidades morais. E a história dos homens escrevia seus heróis, seus arquétipos e deixava seus exemplos.
Não eram apenas os mitos do Monte Olimpo, ou comandantes romanos e beduínos valentes.
A nossa história pessoal é feita de gestos. Não são poucos os casos em que ancestrais próximos, ajudaram concorrentes comerciais em dificuldades ocasionais ou adversários de qualquer sorte que recebiam apoio, até encoberto, como no caso narrado.
Já são raros os homens que têm a coragem de dizer: Eu te reconheço guerreiro e me identifico em ti. Toma meu escudo e segue tua luta...
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