Muito tem sido falado e escrito, principalmente pela boca e pena de cientistas políticos, sociólogos, filósofos e jornalistas, sobre a apropriação das estruturas dos partidos políticos brasileiros, nos três níveis federativos, por grupelhos ou, em não poucos casos, por “blocos do eu sozinho”. Trata-se de fenômeno que, de tão escancarado, não deve passar despercebido nem ao mais desatento cidadão.
Mas, agora mesmo, acabou de ocorrer um fato emblemático, como há muito tempo não se via, desse domínio absoluto dos partidos políticos por figuras execráveis sob todas as óticas. Trata-se da desfiliação de Marina Silva do PV (Partido Verde), que aconteceu em 7 de julho, portanto, somente há alguns dias atrás.
Marina Silva, como é sabido de sobejo mas não custa eu lembrar aqui, foi candidata a presidente da República pelo PV na eleição de outubro do ano passado, tendo recebido, no primeiro turno, 19.636.359 votos. Para dar uma ideia da expressividade da votação, mais ainda se considerada a sua estrutura eleitoral realmente franciscana, ela obteve 19,33% dos votos válidos (excluídos os votos em branco e nulos), ou seja, aqueles dados a uma das candidaturas postas. Marina Silva foi, durante mais de 5 anos, ministra do Meio Ambiente, e é respeitada como ambientalista no Brasil e no mundo, tendo recebido vários prêmios internacionais de reconhecimento. Ela foi entronizada na causa ecológica por ninguém menos do que o líder seringueiro do Acre e mártir da preservação da Amazônia, Chico Mendes, assassinado em 22/12/1988.
O motivo direto alegado por Marina Silva para justificar a saída do PV, foi a decisão tomada pela executiva nacional, presidida há 12 anos por José Luiz de França Penna, de prorrogar por 1 ano o seu mandato. Ela pretendia renovar a direção do PV para levá-lo a cumprir a finalidade para a qual foi fundado em 1986: defender, sincera e corajosamente, o meio ambiente.
E quem é José Penna, o outro protagonista que, pela sua só presença no lado oposto da linha arrebentada por Marina Silva, torna esse fato especialmente exemplar do controle ilegítimo dos partidos políticos brasileiros? Ele era um desconhecido músico em São Paulo quando assumiu, em 1999, a presidência nacional do PV. Nessa condição, José Penna foi acusado, dentre outras muitas irregularidades e fraudes, de desviar recursos do fundo partidário, ou seja, dinheiro público, repassado ao PV, para pagar o frete de um avião que transportou familiares seus nos trechos Belém (Pará) – Brasília – Belém. Em variados anos, o PV teve rejeitadas as suas prestações de contas pelo Tribunal Superior Eleitoral, de que decorreram suspensões dos repasses de recursos do fundo partidário. Em 2008, José Penna foi eleito vereador no município de São Paulo. E, em 2010, surfando na onda Marina Silva, elegeu-se deputado federal.
Mas o que pode explicar que até um partido de conteúdo programático tão específico e contundente como o PV, num país como o Brasil, formado de Estados com problemas ambientais gravíssimos, como todos os da região amazônica, e muitos de outras regiões, como, inegavelmente, Santa Catarina, não seja composto e dirigido por integrantes de ONG’s e movimentos ecológicos, e por simpatizantes de suas causas? Respondo: na base, a autonomia dos partidos políticos, prevista na Constituição Federal, que possibilita a ditadura de suas cúpulas, com respaldo em dispositivos como estes constantes do estatuto do PV, e similares que devem fazer parte dos estatutos de todas as demais agremiações partidárias brasileiras: “Os órgãos partidários estão sujeitos às seguintes penas: - intervenção, com prazo determinado, nos casos de desobediência às direções superiores; - dissolução, nos casos de divergências graves e insanáveis com as direções superiores, ...bem como o desrespeito à deliberação de órgão superior...” Ou: “São atribuições da Comissão Executiva Nacional: - determinar a intervenção em Estados e Municípios...; - deliberar sobre a prorrogação dos mandatos dos órgãos partidários”.
Nem Marina Silva conseguiu resistir...
Qualificação do mantenedor deixou um novo comentário sobre a sua postagem "NEM MARINA SILVA": Boa tarde, meu caro!
O crime de colarinho branco mudará de nome, passando a incluir as cores verde e azul ?
Um forte abraço, a você, familiares e leitores.
Qualificação do mantenedor deixou um novo comentário sobre a sua postagem "NEM MARINA SILVA":Vislumbrando o esfacelamento do PV, já estão articulando o registro do Partido Ecológico nacional, como noticiei hoje no meu blog.
Nos sei se com "quadros" dissidentes do PV.L.A. deixou um novo comentário sobre a sua postagem "NEM MARINA SILVA": A política virou negócio. Já foi melhor em todo o mundo. Sempre traiu. Brutus é símbolo. Mas, o lado mais vergonhoso e constrangedor, é quando dizem aos jovens: Entrem nela para que não seja controlada pelos podres... E os jovens entram, lutam, esperando mudar a História, e se defrontam com o horror.
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