Por Edison da Silva Jardim Filho
O governador Raimundo Colombo tem uma péssima característica pessoal e política, que é a de, com uma cara de sacristão de missa de domingo depois de receber a hóstia sagrada, dizer coisas que até o vendedor de picolé da esquina, como diria Nelson Rodrigues, sabe que não são verídicas. O Luiz Henrique, o Eduardo Moreira, o Leonel Pavan, a Ideli Salvatti, o Casildo Maldaner, o Paulo Bauer e o Esperidião Amin, para ficar somente nos maiores nomes da política catarinense atual, já a partir da expressão facial (em que o olhar desponta sobranceiro) não mais convencem a nenhum eleitor minimamente observador. Agora o governador Raimundo Colombo, não! É forçoso reconhecer que ele encontra-se no auge da primavera do exercício dessa característica destacada dos políticos brasileiros: a mistificação completa, que vai do conteúdo do discurso à expressão facial e ao olhar.
A divagação é produto da justificativa que Raimundo Colombo vem dando, em entrevistas, para ter deixado o partido em que militou desde a fundação, culminando com a sua eleição a governador, o DEM (Democratas), e aderido à aventura do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de criar o PSD (Partido Social Democrático). A essa pergunta específica, em recente entrevista televisiva, o governador Raimundo Colombo respondeu: “Eu acho que a política está velha, está desgastada, está desmoralizada. Nós temos de fazer política nova (...). Um partido novo é a oportunidade de você fazer isso...”
A política brasileira está velha, desgastada e desmoralizada por causa exatamente de atitudes como a do governador Raimundo Colombo que, cobra mandada que é, aceitou a ordem vinda das sombras para cerrar fileiras na formação do PSD, que, pela própria boca do seu maior inspirador e líder, o prefeito Gilberto Kassab, autoproclama-se como “não sendo de direita, de esquerda, nem de centro”, mal escondendo a finalidade única de oferecer-se, apetitoso, ao governo, recém iniciado, da presidente Dilma Rousseff. Mais do que velha, desgastada e desmoralizada, a política brasileira já caiu de podre por causa exatamente de políticos como o governador Raimundo Colombo, que, não tendo a necessária coragem para ousar “ponderar” com o “chefe”, usa de pura falácia para justificar o injustificável: o novel adesismo de governistas natos. Pode abrigar todos os adjetivos menos o de “novo”, um partido que é comandado pelo prefeito Gilberto Kassab, como o seria, certamente, por José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal, não fosse o acidente de percurso do “mensalão do DEM”. Só pode ser natimorto, mais até do que velho, um partido que tem como timoneiro o prefeito Gilberto Kassab, tão promissor representante daquela estirpe paulista de políticos que fazem de interminável carreira pública meio para ficarem podres- num outro sentido- de ricos, da qual são notórios baluartes um vivo e outro morto: Paulo Maluf e Orestes Quércia. Sobre a mediocridade acachapante do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o jornalista Janio de Freitas resolveu pontificar em artigo publicado na edição de 15/05/2011 do jornal “Folha de S.Paulo”: “Nem uma só frase sua, nem uma só ideia sua o nome dessa eminência política, com tantos anos de trânsito na vida pública, traz à lembrança. E não é em algum lugar subalterno que Kassab se sobrepõe aos circunstantes. É no Estado das grandes universidades, do poder financeiro e econômico, da imprensa predominante em influência nacional. Como é possível que seja ele o relevo?” A última notícia sobre o prefeito Gilberto Kassab vem do relatório anual do Tribunal de Contas do Município de São Paulo: as suas contas de 2010 foram recomendadas à aprovação, como não poderia ser diferente, mas com ressalvas que apontam para a constatação de que ele gerencia mal áreas essenciais da administração. Já a penúltima notícia dava conta de milhares de mortos que, no Brasil todo, ressuscitaram para subscrever as listas de apoiamento necessárias para configurar, junto ao Tribunal Superior Eleitoral, o caráter nacional do PSD e, assim, possibilitar o registro do seu estatuto.
É nesse novo partido do prefeito Gilberto Kassab que o governador Raimundo Colombo diz que vai “fazer política nova”. Pode? Mas estamos no Brasil...
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