Talvez a mais significativa das letras cantadas nas músicas dos Beatles.
É a eterna esperança de quem sozinho ao desabrigo sabia da existência
de uma longa e sinuosa estrada que levava à sua porta. The long and winding road that leads to your door. A estrada é a vida de cada um deles, jovens, rebeldes, criativos, talentosos e humanos que sofreram as dificuldades e resistências de todos os inícios, o reconhecimento, a glória, as perdas e a morte. Dois sobreviventes, Paul Mc Cartney e Ringo Star.
Paul, pelo cuidado e pelo talento é o cavaleiro andante de uma geração que protestou, alertou, mudou comportamentos no Ocidente, ousou e cantou um sonho multicor. Foram debochados quando necessário, como durante o recebimento da comenda entregue pela rainha, quando teriam dito: os mais pobres podem aplaudir, os outros devem chacoalhar suas jóias. Anos, depois, John Lennon devolveu ao Palácio de Buckingham a comenda com um singelo bilhete: “Em razão das interferências do Reino Unido em questões bélicas internacionais, Vietnam inclusive, devolvo a condecoração. With love, John Lennon”. Sempre foi o mais político, o que tinha maior alcance do significado do grupo. Não por acaso passou um final de semana na cama, com sua mulher, em protesto contra as guerras.
Deixaram-se fotografar nus. Nothing to hide or fear.
Suas músicas vão desde o pedido de socorro, “help to get my feet back on the ground” até “all you need is love”. São canções que todos entendemos e acolhemos. “And anytime if you feel the pain, Hey Jude refrain, don’t carry the world upon your shouldres”. E assim, entre acordes e gestos, entre Londres e Nova York, eles concluem que “we all live in a yellow submarine”.
O que importa nesta banda é que influenciaram gerações intieras. Um fato político inusitado, em escala quase global. Só não foi maior porque a comunicação mundial era limitada.
O que restou, hoje, é uma histeria quase acrobática. Uma sociedade fria e automatizada, conectada e alienada simultaneamente. Uma sociedade vencida pela violência, pela corrupção, pela mediocridade. Uma sociedade média. Da média e para a média. Sem referências ou reverências.
Uma sociedade estética e siliconada. Punk, marombada, have, trash, funk, fugaz, midiática, blogada, pulverizada, dispersa e aspergida dentro de si.
Uma sociedade global que assiste ao levante do Oriente, a China.
Ya, ya, ya. She loves you, ya, ya, ya. She loves you, ya, ya, ya.
Uma sociedade que pulsa em bytes, megabytes e mede eficiências inconscientemente. Quantos orgarmos por hora recomendam as tabelas da medicina quântica? Ela existe? Quem? A tabela ou a medicina?
“Something in the way she moves, atracts me like no other lover, something in the way she woos me...”.
A sociedade pós-beatles não é um sonho realizado. É uma sociedade funcional, métrica e digital. Não por acaso, prevendo, John Lennon disse: The dream is over.
Eles fizeram sua parte. Foram alma, deram ânima.
Anima, vagula, blândula. Pequena alma terna e flutuante. Hóspede e companheira do meu corpo. Vais descer aos lugares pálidos, duros e nus.
Onde deverás renunciar aos jogos de outrora, como escreveu Adriano pelas mãos de Marguerite Yourcenar.
Imagine all the people living life in peace. Ou, ainda antes, “all we are saying is give peace a chance”, como queria John Lennon.
De que paz falava? Apenas da guerra arrazadora? Ou de fatias sociais que se sobrepunham umas às outras, pelo regime econômico adotado, capitalista ou comunista, mas que inexoravelmente, ambos, proporcionavam mais para uns poucos do que para outros muitos.
Ou era o fim do sonho jovem que cederia às vontades do patrão ou do chefe e que, no silêncio da resignação, teria que renunciar ao próprio sonho de reformar o mundo? Ou era, ainda, o sonho que um negro e presidiário, Nelson Mandela, conseguiu manter circulando em seu sangue até a dia da libertação final e com ela fez-se líder político de uma sociedade que não renunciou ao desejo do homem livre?
De que sonhos falamos? “Obladi and Obladá, life goes on bra...Desmond says to Molly, girl I like your face. And Molly says this as she takes him by the hand...”.
Foram todos os quatro artíficies de seu tempo. Foram líderes de processos diversos. Criativos, decorativos, polêmicos, proibidos ou condecorados.
Foram uma belíssima marca do século XX.
George Harrison, o mais inquisitivo, foi em busca de Deus.
My sweet Lord...
MMM My Lord...
Sweet Lord...
Paul Mc Cartney canta em Florianópolis...
Lord, my sweet Lord...
MMM My Lord...
Comentários:
Parabéns Sérgio por trazeres, com o primoroso artigo do nosso amigo
Marcos Bayer que,nos meus 60 anos reviva os anos 60 - Lep Zepelin,
Marmelade, Pink, Creedence e os Beatles. Fomos previlegiados como poucos
de viver essa época de ouro do rock mundial. Na falta da Polar, hei de
comemorar com algumas serramaltes geladas essa volta ao passado.Renato Kadletz
Parabéns Sérgio por trazeres, com o primoroso artigo do nosso amigo Marcos Bayer que,nos meus 60 anos reviva os anos 60 - Lep Zepelin, Marmelade, Pink, Creedence e os Beatles. Fomos previlegiados como poucos de viver essa época de ouro do rock mundial. Na falta da Polar, hei de comemorar com algumas serramaltes geladas essa volta ao passado.
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