Por Emanuel Medeiros Vieira
Merecemos o que não merecemos?
Incompletos fragmentos de nossos ímpetos: capturamos.
Grãos de areia,
Inúteis (inúteis?) e inapelavelmente mortais.
Insuportavelmente finitos?
Sopro de juventude aspirado.
(Basta o sonho?)
E sempre passamos – agora já é passado.
O pó que se vai:
algo na Lagoinha, na Ilha natal.
Outro tanto, na Praça Castro Alves, em Salvador,
Um pouco na Paulicéia, e no Alto da Bronze, em Porto Alegre.
(Em 1631, era publicado na Inglaterra o livro “Anatomia da
Melancolia”, de Robert Burton.)
Saturno, saturnino:
o sexto planeta do
sistema solar.
O tempo (no sentido cronológico).
O tempo – sempre Ele (que não sei o que é).
Sombrio e melancólico?
Feito de chumbo (essa matéria).
“Em outubro de 1347
uma frota genovesa vinda do Oriente entrou no porto de
Messina, na Sicília.
Não foi uma chegada festiva, antes um tétrico espetáculo: quase todos os
marinheiros haviam morrido ou estavam agonizantes. De peste.”
(Que exterminou um
terço da população da Europa.)
É o início de “Saturno nos Trópicos”, obra de Moacyr Scliar
(1937-2011).
A Inquisição –
estabelecida na Espanha em 1478, e em Portugal em 1536 –, foi a instituição mais temida do mundo
durante trezentos anos.
Mais tarde, chegaram a
penicilina, o antibiótico, luzes, e outras pestes.
Primeira Guerra Mundial.
Segunda Guerra Mundial.
(Ainda bem que nos amamos – uns aos outros...)
(Papai falava na Gripe Espanhola (1918-1919), que matou
de 50 a 100 milhões de pessoas.)
Melancólico, depressivo, ciclotímico.
“Uma uivante tempestade no cérebro”, escreve William
Styron (“A Escolha de Sofia”) sobre o sofrimento causado pela depressão.
Para ele, as pessoas não se dão conta do sofrimento pelo
qual passa o deprimido.
Também solar – somos.
Tantos somos.
Ser.
Sempre flutuante,
E já chegou o domingo: e já passa das dezoito horas.
Espesso tempo, e sinto o cheiro da morte.
E tudo é domingo.
E anoitece.
Saturno, saturnino:
Ainda estou no planeta, mas a maior parte da estrada já foi
andada.
Somos feitos de outros chumbos, outras melancolias, morrendo
de tudo a cada dia, e um pássaro canta na janela do quarto em que escrevo,
pousa, num domingo de junho – uma manhã de sol, a vida, pequena, rápida – mas
vida –, numa cidade que foi a primeira capital do meu país. E contemplo uma vela
que se apaga.
Muito bom no contexto.
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