Volto a Santiago do chile depois de 33 anos. Estou curioso. Quando estive aqui em 79, o país estava sob a ditadura Pinochet. No Brasil vivíamos a era da “distenção“ e da “abertura lenta e gradual”. Aqui a coisa parecia não acabar. Tempos sombrios, de perseguições e mortes. Lembro que o toque de recolher era às 20 hs. A partir deste horário ninguém podia andar nas ruas. Quem cometia a loucura de sair à noite e topar com um patrulha militar, dificilmente voltava para casa. Muitos desapareceram.
Descemos, eu e a Gisa, no Aeroporto Internacional de Santiago às 11:25hs por culpa de um atraso de 2 horas da Pluna Uruguaia. Entre um táxi oficial e uma van, optamos pela segunda. Demora um pouco, mas chega mais barato à cidade.
Santiago já
era uma metrópole moderna em 79. A cidade cresceu, tem hoje mais de 6 milhões
de habitantes, é limpa e organizada com grandes avenidas e auto pistas. Na
arquitetura, mantém a característica de misturar prédios antigos com modernos.
A construções de novos prédios de aço e vidros espelhados acontece ao lado de antigas construções
coloniais espanholas que os chilenos tentam preservar a todo o custo frente aos
terremotos que acontecem na região.
A presença
constante da Cordilheira dos Andes com seus picos nevados é algo diferente e
maravilhoso.
A quantidade
de auto pistas e elevados na rota aeroporto/centro é impressionante. A cidade é
extremamente limpa e não vimos ninguém dormindo na rua. Chegamos na Calle
Huerfanos em 20min. O loft alugado pela internet estava a nossa espera sem
nenhum problema. Geladeira, fogão, Wifi, micro ondas, banheira...maravilha.
De volta a 79
Lembro que em
1979 a hospedagem não era tão moderna mas era aconchegante. Fiquei na casa de amigos.
Eram filhos de um ex-embaixador chileno no México e tinham motos, como eu, na
época. Uma Honda 750, uma Kawazaki 750 e uma Honda 550 four formavam um pequeno comboio.
Com a importação
de carros e motos liberada, Santiago era
um shopping a céu aberto de carros e motocicletas modernas. Nunca havia visto
tantas marcas. Uma maravilha!
No período
da ditadura, além da apreensão com a brutalidade do exército e da polícia, se
levava uma vida um pouco monótona. Para superar o estado de letargia e a falta
de adrenalina resolvemos criar uma programação, digamos, um pouco “caliente”.
Ficávamos em
casa durante o dia. Quando anoitecia, já perto do toque de recolher que era
às 20h, vestíamos jaquetas e botas de couro, passa-montaña, luvas de lã e
capacete, esquentávamos as motos, tomávamos alguns tragos de
pisco com estimulantes e partíamos para a cidade.
Luzes apagadas para não dar bandeira entrávamos a 170/180 Km/h na Av. Libertador Bernardo O’Higgins e depois de um túnel de plátanos desembocávamos na Providencia já subindo para Las Condes e Vicuña e mais adiante retornar pelo que hoje chamam de Costanera Norte.
Luzes apagadas para não dar bandeira entrávamos a 170/180 Km/h na Av. Libertador Bernardo O’Higgins e depois de um túnel de plátanos desembocávamos na Providencia já subindo para Las Condes e Vicuña e mais adiante retornar pelo que hoje chamam de Costanera Norte.
Somente duas
vezes encontramos patrulhas militares. Na primeira, eram dois carros de combate
do exército. Já eram perto das 3hs da manhã. Quando perceberam o barulho das
motos já havíamos passado. Voltamos imediatamente para casa e comentamos a “adrena”
até de manhã. Embora um pouco assustado
adorei a “aventura”, coisa de guri irresponsável mas também uma forma de
quebrar aquelas estúpidas leis de proibir as pessoas de ir e vir...rápido.
Eu apenas
seguia os amigos que não eram fracos para acelerar. Se turnavam os dois irmãos
na liderança do pequeno comboio e o itinerário somente era trocado quando pressentiam
algum perigo de topar com policiais.
Outra vez, logo
no começo da noite, topamos com uma grande ação policial que envolvia cavaletes
e barreiras de ferro. Voltamos para casa frustrados. Em meio a loucura existia
um certo sentimento de cuidado tipo “somos loucos mas não somos bobos”.
Fique nesta
toada durante um mês!
Em Viña del Mar |
Agora volto a Santiago e ando a pé pelas seguras ruas da cidade. A minha “adrena”, hoje, é um tiro no Cassino de Viña Del mar, um excelente vinho chileno a custo zero, degustar a maravilhosa culinária chilena a base de frutos do mar e desfrutar da companhia da Gisa. Ou seja, jogo, bebida, mulher e comida. Não quero outra vida. (Segue)
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