Conto de Emanuel Medeiros Vieira
Para CLARICE
Então, eu disse para ela – tentando desdramatizar, buscando um sorriso: - quando sentires saudades, olha uma estrela (qualquer estrela), em qualquer noite, e tenta me enxergar lá – o bigode, o sorriso, as esperanças, as paixões, os erros, as lutas não vencidas, o sonhos, os voluntarismos, tudo o que quiseres enxergar.
Ela camuflava a tristeza. Eu iria partir. Nunca se sabe quando.
- De qualquer maneira, eu sempre te amarei, e esse amor vai à eternidade, mas eu não quis ser solene ou retórico– era o que eu sentia (sempre, só escrevi o que senti).
- Morrer é ficar longe dos amigos?
Lembrei-me de um personagem de Gabriel Garcia Márquez, em “Do Amor e Outros Demônios”: “O corpo humano não foi feito para os anos que a pessoa é capaz de viver” (...).
Vida e morte, não pedimos para nascer, não pedimos para morrer.
“Os homens morrem e não são felizes” (Albert Camus).
Fomos andar no Parque da Cidade.
E fiquei pensando: vi esta “menina” nascer, assisti aos seus crescimentos, os primeiros dentes, seu crescimento, a evolução do corpo, e ela estava agora com quase trinta anos, e é um sol nesta minha vida.
Como em Nietzsche, a mim não foi concedido o benefício do esquecimento.
Seria um lugar-comum, mas eu “discursei”: - é preciso ser forte, nascemos, vivemos, envelhecemos – se não morrermos antes.
Entendi na prática o que estudara nas aulas de Filosofia: é preciso ser estoico.
Não reclamar, seguir em frente.
Fé? Eu não sabia se ainda a tinha.
“Nada acontece no teu conto”, avisa um anjo.
Um eventual leitor, talvez diga: “que triste!” ( o texto).
Categorias como “alegria” ou “tristeza” não importam no que escrevo. Só busco colher uma verdade humana, só escrevo o que sinto – sempre (perdão pelo tom solene ou retórico – ou pelo eventual lugar-comum).
Parece um jogo de dados. Cai o número seis, o número um. Sempre cai algum número.
Células “saíram do lugar”. O repertório é vasto – enfermidades várias.
Passamos. Breve sopro.
Insisti: sempre te amarei, aqui, depois, sempre.
Comemos pipoca, tomamos água de coco.
Estávamos no período de seca em Brasília.
Seus olhos pareciam indagar: “por que”?
Nunca saberemos.
Nunca saberemos de nada.
Em tradução livre, recordei-me de “Macbeth”, de Shakespeare” (sobre a vida): “É uma estória contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem nenhum significado.”
Poderia ter optado por “louco” em vez de “idiota”. E optando “qualquer” em vez de “nenhum”.
A vida? Essa ânsia toda. Essa movimentação toda. Essa luta toda.
Mas não esqueças, moça: para te lembrares de mim, basta escolher uma estrela.
Qualquer uma.
Até.
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