Do amigo Laercio Duarte
Meu querido mestre,
Não ousaria intervir na questão uruguaia do Mujica. Pelo menos não diante de ti. No entanto, estou com este material já há dois anos e percebo que ele continua atual. Portanto, vai como mais uma sugestão, caso queiras aproveitá-la.
Tenho percebido que vários defensores do governo Dilma e do Partido dos Trabalhadores, em geral, apresentam o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, como um militante de esquerda progressista e simplório, amigo de Lula e dos bolivarianos, que apóia Cristina Kirschner na Argentina, como apoiou Maduro ou Dilma nas mais recentes eleições.
O ex-presidente José Mujica, na verdade, liderava uma coalizão das forças políticas que desistiram de fazer a revolução proletária no Uruguai. Ele foi eleito explicitamente com um programa ideológico muito bem alinhado com a nova direita internacional, coisa inadmissível no Brasil do PT, MST e CUT.
Seu programa de governo incluía:
1) desregulação financeira; (por isso o Uruguai segue sendo um paraíso fiscal)
2) desnacionalização da produção e da comercialização dos itens tradicionais (carne, arroz, trigo, lácteos). O queijo uruguaio continua sendo um dos melhores do mundo, mas já não é uma exclusividade das empresas lácteas uruguaias.
3) reformas de perfil liberal, incluindo concentração da terra, multiplicação do regime de zonas francas; isenções tributárias às multinacionais do agro negócio, de pasta-celulose e mineradoras, privatizações, terceirizações, projetos em participação público-privada, e tudo o mais que deixa de cabelo em pé seus antigos camaradas Tupamaros.
Por outro lado, não há criança uruguaia fora da escola e os estudantes de todas as escolas públicas estão munidos de notebooks e tablets. Não falta comida na mesa dos pobres e a oposição pela esquerda se resume a alguns sindicatos de servidores públicos.
…"Por que vou combater o que só me faz bem?" , declara um empresário do setor de indústria química, novo no país.
Para o economista Luis Bértola, doutor em História Econômica da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade da República, e aderente da Frente Ampla, "O governo Mujica será lembrado por não ter concretizado os desastres que os Tupamaros propunham há quatro décadas".
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