Uma violenta câimbra na panturrilha me faz levantar intempestivamente da cama para colocar o pé no chão. Madrugada ainda, meio dormindo, tentando entender o quer estava acontecendo quando vejo, por entre as cortinas do quarto, no estreito horizonte vertical à minha frente, uma luz alaranjada, forte, quase vermelha.
Corro, capengueando, para pegar o telefone e registrar o nascer daquele lance muito comum nos verões de Florianópolis: o SOL!
Tateio na penumbra do quarto em busca da minha máquina de luz. Tenho que registrar esse fenômeno que há mais de 40 dias não dá o ar da sua graça na minha praia.
Encontro o telefone e, descoordenado, tento ligá-lo...estava descarregado, sem bateria. Insisto na ação e como um morto vivo (walking dead) com uma perna dura e apenas uma mão apalpo cada centímetro do quarto, agora procurando a mochila onde tenho outro telefone fotográfico de reserva. Ando com dificuldade tentando achar o ponto certo de imobilidade da perna para a câimbra não me contorcionar e me envolver como uma jiboia que te aperta a cada vez que respiras.
Encontro a mochila, busco o telefone, busco no outro compartimento, na bolsinha da frente...nada. Tinha deixada na sala, lá embaixo, na noite anterior.
A câimbra me dá um último golpe, desta vez quase fatal. Sento na cama e coloco o pé plantado na parede...ufa, aliviou! A estratégia funcionou mas me aprisionou no gesto. Não podia me mexer, a jiboia estava à espreita.
Imóvel, sem noção de quanto tempo tinha passado, olho para a nesga da cortina e percebo que a luz tinha acabado. Esperei mais um tempo na penumbra, desci a perna lentamente como quem vai sair de fininho e chego até a janela. O cavalo passou encilhado e me refugou o estribo. Tinha perdido o tempo de registrar o que seria o melhor fenômeno natural dos últimos tempos por aqui: o nascer do SOL!
O dilúvio bíblico foram 40 dias e quarenta noites de chuva. Fichinha para Floripa, já passamos dos 50!
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