Recebi na noite de ontem um telefonema de meu irmão de andanças lá pela fronteira com o Uruguay. Está em Quaraí, nossa cidade, fronteira com Artigas. Me comunicava ele que Patrícia Ayala tinha sido eleita intendenta (prefeita) de Artigas.
Patricia Ayala tem 43 anos e era deputada em Montevidéo pelo Movimento de Participação Popular (MPP) partido de esquerda integrante da Frente Ampla. É a primeira mulher a chegar à prefeitura de Artigas.
Convivi muito com a família Ayala em minha infância e adolescência. Os avós de Patrícia, tinham La Casa Ayala, uma tradicional loja de roupas e tecidos. Sempre lembro deles com alegria. A família grande trabalhava toda na "tienda". Eram de uma simpatia e alegria impressionantes. As idas à Casa Ayala eram sempre um evento. Muita conversa, irmãos, cunhadas, filhos e netos pequenos andavam pela loja cheia de prateleiras, mesas grandes com tecidos e roupas.
Com o surgimento do Movimento de Liberación Nacional Tupamaros os filhos se integraram na guerrilha urbana que combatia a ditadura militar no Uruguay. Onito, pai de Patrícia, esteve preso por 11 anos no presídio político de Libertad e sua mãe e companheira de campanha, Dolores Sanchís, também foi presa política. Eram muitos irmãos e vários militaram no movimento Tupamaro.
Em 1980, quando moramos no Uruguay, o jornalista Jurandir Camargo e eu, mantivemos contatos com a família Ayala. A ditadura aqui no Brasil já estava em ritmo de samba, morrendo. No Uruguay a coisa ainda era pesada.
Onito estava preso em Montevidéu e um dos seus irmão havia sido solto recentemente. Se encontrava em Artigas sob forte vigilância do exército e sem nenhum documento o que o impedia de deslocar-se para qualquer lugar.
Eu e Jurandir fizemos contato com o Alto Comissariado da ONU para refugiados políticos no Rio de Janeiro e, através de Jair Krischner, militante do Movimento de Justiça e Direitos Humanos em Porto Alegre, enviamos o Ayala para a Suiça.
Há tempos encontrei o amigo de visita a Artigas. Vive na Suiça até hoje com mulher e filhos.
Imagino a alegria da familia Ayala com a eleição de La Paty (Patrícia). Uma família de guerreiros políticos. Tanto na clandestinidade como na legalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário