sábado, 15 de maio de 2010

O PARTIDO LÍQUIDO

Por Edison da Silva Jardim Filho

Esta coluna não nega que tem algumas obsessões. Aliás, como todas as colunas políticas dos colegas de qualquer jornal ou revista em circulação no Brasil e no mundo...

Uma de suas mais renitentes obsessões é o DEMO- partido Democratas. Os colunistas políticos costumam fazer marcação cerrada em cima do PMDB. Dizem, com variações de conteúdo e estilo, que ele, há muito tempo, transformou-se, somente e nada além, no maior amontoado de urubus a disputarem a carniça, já retorcida, do erário público. Também falam cobras e lagartos do DEMO... Mas eles têm naturezas diferentes. O que os diferencia? É o grito de “Pega ladrão!” O DEMO age como o batedor de carteira que, em desabalada corrida, para desorientar a vítima, os transeuntes e a polícia, vai gritando: “Pega ladrão! Pega ladrão!” O DEMO é diversionista, dissimulado; aplica, ao seu padrão de comportamento político, ciência, método. O DEMO é líquido, mais que isso: gasoso; o PMDB é sólido. Assim, o DEMO é um entrave muito maior do que o PMDB, para a correção de rumos que a parcela esclarecida da população deseja dar à democracia brasileira.

Acabamos de assistir, no Estado, à uma demonstração retumbante disso que eu estou dizendo. Foi durante o desenrolar do caso que fez despencar, barranqueira abaixo, a reputação, que já se sabia nenhuma, do governador Leonel Pavan. Eu a acompanhei com a mesma atenção com que um técnico do Instituto Butantam escarafuncha uma cascavel venenosa.

O primeiro movimento importante do DEMO foi vazar, para os colunistas políticos, o “desconforto” que sentia em participar de um final de governo que tinha um caso tão documentado de corrupção quanto o do então vice-governador Leonel Pavan. O segundo foi “plantar”, na imprensa, a informação de que tinha aparecido um complicador para a permanência do DEMO no governo. Era o então secretário da fazenda, Dr. Antônio Gavazzoni; que havia comunicado ao partido que, se o vice-governador, Leonel Pavan, “assumisse o governo ele desembarcaria no mesmo dia”. Logo o secretário Gavazzoni, que imagino tenha respondido com um sonoro: “Sim, senhor!”, quando o vice-governador, Leonel Pavan, telefonou-lhe do gabinete e lhe fez a seguinte admoestação, com aquela emoção com que costuma tratar de negócios escusos- segundo o teor da transcrição de conversa telefônica mantida pelo representante, em Santa Catarina, da empresa Arrows Petróleo do Brasil Ltda., Marcos Pegoraro, com o seu irmão Joel: “Saí do gabinete do Pavan agora Joel, acho que... Eu acho que acertei a minha vida! (...) Ele ligou na minha frente para o Gavazzoni, que é o secretário da fazenda, e disse: ‘Olha aqui Gavazzoni, o assunto Arrows, primeiramente, não faça mais nada e não mexa mais nada e venha na minha sala, tá? É gente da minha família, ninguém vai mexer com eles.’” O terceiro movimento consistiu em vazar, para os colunistas políticos, que, se o vice-governador Leonel Pavan assumisse, em definitivo, no mês de abril, o governo, o DEMO o deixaria, visto que não iria arcar com o ônus de defender a sua gestão durante a campanha eleitoral. O quarto foi emparedar o então governador em exercício, Leonel Pavan, para ele decidir, de uma vez, se seria ou não candidato à reeleição, caso sucedesse ao governador Luiz Henrique da Silveira. Este era o novo motivo que faria o DEMO sair do governo, pois, agora, já considerava a hipótese de fazer uma coligação com o PSDB. O quinto movimento teve aplausos da platéia, embora previamente decidido por uma única pessoa: a reunião do dia 22/03/10, em que o DEMO fez a comunicação de que estava deixando a coalizão de governo. O sexto consistiu em não demarcar com precisão o dia da saída: afinal, o secretário Gavazzoni ainda tinha algumas medidas importantes a tomar à frente da Secretaria da Fazenda... E o sétimo movimento, foi deixar claro que as pessoas indicadas pelos secretários e deputados do partido, para os escalões inferiores do governo, continuariam no exercício dos seus cargos.

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