Por João José Leal
A Internet chegou rapidamente para tomar conta da informação e da comunicação, unindo pessoas em todo o mundo. Até os mais velhos, sempre reticentes e resistentes às mudanças, afinal somos um pouco genética e outro tanto produto do meio e do nosso passado, aderiram ao clique cibernético. E, neste tempo de computador massificado, parece que todos navegam nessa teia da liberdade global e universalisadora do conhecimento.
Como tudo o que queremos saber está na Internet, a velha e emblemática enciclopédia, símbolo do conhecimento global e multidisciplinar, desapareceu das estantes dos lares brasileiros. Orgulhosos, seus donos faziam questão de mostrar erudição e comprometimento com a cultura. Casa de rico e de gente da classe média não precisava de ter uma biblioteca, coisa de inteletual, mas não dispensava uma vistosa enciclopédia.
Se o dinheiro estava sobrando, mais de uma coleção do saber global encadernado podia ser comprada. Nos meus tempos de universitário, uma das anedotas que rolava em Floripa, tinha por personagem um rico, mas pouco letrado, vereador, que havia comprado quatro coleções da mesma enciclopédia. Apenas, de cores diferentes, porque era preciso harmonizar com a decoração da sala de sua luxuosa residência.
Tinha-se a sensação ilusória de que, naqueles 20 ou mais volumes encadernados, com lombadas douradas, porque o saber vale ouro, repousava todo o conhecimento humano. Em parte e, porque tudo é relativo, era verdadeira essa crença. Infelizmente, esse importante repositório de conhecimentos repousava e acabava dormindo nas prateleiras. Consultas e pesquisa, muito pouco ou quase nada. E assim, a bela coleção encadernada servia mais para decoração do que fonte do saber.
Com a Internet, desapareceu, também, o vendedor daquelas coleções encadernadas, possuidor de uma conversa que, se você parasse para escutar a primeira palavra, teria muita dificuldade em escapar da compra do “verdadeiro tesouro do saber”, por um preço que sempre ficava pela metade da oferta inicial. Era o tal do negócio em que você comprava já arrependido, sentindo que estava caindo no conto da enciclopédia.
Muitas vezes, o vendedor batia à porta da casa para convencer a mulher a comprar a coleção, instrumento indispensável de consulta para o estudo dos filhos. Sabia ele que toda boa mãe quer seus filhos cheios de sabedoria. Ao chegar em casa o marido, certa era a briga do casal. O mais grave, mesmo, acontecia, quando a ingênua esposa, como na música de Chico Buarque de Holanda, seduzida pela conversa aveludada, fugia com o malandro vendedor de enciclopédia. Felizmente, esse doloroso drama parece não acontecer mais, neste tempo mágico da Internet.
Nenhum comentário:
Postar um comentário