Um conto de Emanuel Medeiros Vieira
Eu disse assim: o futuro chegou depressa demais, moça.
Ela me olhou.
– Nunca te amei.
Eu sabia, mas não comentei nada.
Foi quando me lembrei ou me “inspirei” em São Paulo e Thornton Wilder: no amor nossos erros não duram muito.
– Não?
Me indagou, um tanto sardônica.
Ela sorriu, boininha amarela, roupa de normalista, saia plissada, tênis, cabelos loiros oxigenados.
Ela amava outro (quando estava comigo). Sinceramente (quero dizer: sem arranjo mental), isso não me importava. Me tocava a contemplação da grama molhada, do pássaro que chegava todos os dias no mesmo horário, do sol batendo de manhã no meu quarto.
Eu andara muito – tragos, bordéis, agitação, exílios.
Agora: quieto.
Só queria ter outro dia, e mais outro. Até.
Ela me disse com a onipotência dos 25 anos: “Hoje você se contenta com pouco.”
Não: era muito o que eu tinha.
Anoitecia. Ela se despediu. Foi um encontro casual, não a via há anos. Eu fora comprar pão na padaria. Pão. Quente. Um cachorro latia, tão só, sim, anoitecia, a lua era minguante.
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