A SEGUNDA MORTE DE JOHNNY ALF
Olsen Jr.O descaso pelo talento (musical, literário, artístico) de alguém que se conhece e que (con)vive em nosso meio não é um atributo “só” brasileiro. Tampouco, a apropriação do produto desse talento de maneira efetiva, mas dissimulada por (e para) terceiros, a pretexto de um “novo” aprendizado paralelo e espontâneo como um esforço individual independente constitui-se em algo novo ou pode ser tomado como se fosse um comportamento “original”.
Em 1938, o escritor Scott Fitzgerald, já convivendo com a colunista Sheilah Graham, descobre por acaso no “Los Angeles Times” que o teatro Pasadena iria apresentar uma versão teatral do conto “O diamante tão grande quanto o Ritz”... Julgando ser um aceno para um futuro début na Broadway, ele e Sheilah comparecem ao evento em uma limusine com motorista e vestidos a rigor... Mais tarde descobrem que se tratava de um ensaio com um grupo universitário, e um deles – ao percebê-los na assistência elegantemente vestidos – indaga quem são? --- “Sou Scott Fitzgerald, responde --- o autor do texto”... “O quê! Surpreende-se o universitário --- você está vivo?”.
Algumas pessoas carregam essa aura, transformam-se em “lendas” ainda em vida, como ocorreu na música com Roy Orbinson, por exemplo... E com o nosso Alfredo José da Silva, heterônimo Johnny Alf, seu nome artístico.
Ambos foram gradativamente esquecidos, deixados de lado, a diferença é que o músico norte-americano teve o resgate de sua história e importância processadas em vida e morreu com o pé na estrada tocando na banda “The Traveling Wilburys”, junto com George Harrison, Bob Dylan, Jeff Lynne, Tom Petty e Roy Orbison, naturalmente e por puro diletantismo...
O pai de Alfredo era cabo do exército e morreu quando o menino tinha três anos de idade. A mãe era empregada doméstica e foi na família onde ela trabalhava que ele encontrou apoio para estudar piano. Por seis anos estudou música clássica, mas não resistiu ao apelo popular de seus ídolos, Cole Porter e George Gershwin e as trilhas sonoras dos filmes norte-americanos. Foi no Instituto Brasil-Estados Unidos onde aprendeu inglês e ganhou o apelido, adotado posteriormente, os professores o chamavam de Alf e uma amiga sugeriu o Johnny e aos 14 anos formou sua primeira banda.
Aos 25 anos quando tocava em boates, clubes, bares eram assíduos na platéia algumas figuras que ganhariam notoriedade como músicos, compositores e intérpretes, entre eles, Carlos Lyra, Sylvinha Telles, Lúcio Alves, Tom Jobim, Billy Blanco, João Donato, Dolores Duran, João Gilberto, Newton Mendonça, Bebeto Castilho, Roberto Menescal e Nara Leão, entre outros.
Juntar o ritmo do samba com as harmonias do jazz e da música erudita, isso o tornou único e também o fizeram conhecido. Aquele jeito intimista de cantar, como se estivesse sozinho em uma sala, que hoje causa admiração
... Mas os cultuadores da bossa-nova que chegou depois, nunca lhe deram crédito...
Reconhecimento que ele talvez não esperasse, mas que estava sempre muito aquém do seu virtuosismo. Tom Jobim o chamava de “Genialf”.
Luís Antônio Giron em seu texto crítico por ocasião da morte do artista, na Revista “Época”, afirma que “Johnny Alf não foi um “precursor”, como todo o mundo repete sem pensar. É melhor chamá-lo de fundador da moderna canção brasileira”.
Cidadão humilde, tímido e como todo homem de talento, extremamente generoso com aqueles que tentavam lhe seguir os passos, mesmo não lhe reconhecendo publicamente a influência.
A morte num asilo de velhos (casa de repouso é o cacete)
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