A EXTENSÃO DA FICHA SUJA

Por Edison Silva Jardim

Tripudiando sobre o merecido inferno astral por que passa o vice-governador Leonel Pavan, o deputado federal Paulinho Bornhausen, atualmente líder na Câmara dos Deputados da bancada do partido Democratas, que uma parte da imprensa abrevia como DEM, e a outra, mais realista, por DEMO, vem defendendo a aprovação do chamado “Projeto da Ficha Limpa”, sob a modelagem de que os condenados por um tribunal superior não deveriam poder ser candidatos.

Não custa recordar-se... O DEMO tinha alçado a administração do seu único governador, o do Distrito Federal, José Roberto Arruda, a símbolo a ser explorado nas próximas eleições gerais, até que ele foi flagrado, em vídeo e áudio, recebendo propina coletada de empresas fornecedoras do governo, das mãos do seu secretário Durval Barbosa. Hoje, o governador José Arruda cumpre dias de xilindró. Naquela época de “vacas gordas”, toda a cúpula do DEMO posava, com os dentes arreganhados, para fotografias tendo no primeiro plano o governador José Arruda, com o pé engessado. Era também filiado ao DEMO o vice-governador do DF, Paulo Octávio, igualmente enroscado até à medula no escândalo. Mas há ainda o ex-policial civil Marcelo Toledo Watson, que, na quadrilha, tinha a função específica de arrecadar dinheiro para fornir o caixa 2 do DEMO. Segundo consta, esse dinheiro financiou as campanhas dos seus candidatos nas últimas eleições de prefeitos das principais cidades e capitais do país. Florianópolis, é óbvio, não deve ter ficado de fora... Agora, entende-se porque o governador José Arruda e o vice Paulo Octávio, em vários momentos, chantagearam, e ainda chantageiam, explicitamente, a cúpula do DEMO. Era também do DEMO o então presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente, aquele que criou uma nova forma de embalagem de dinheiro de propina: dentro das meias; suplantando, em inventividade, o que já tinha ocorrido com outra peça obrigatória do vestuário masculino: a cueca. Também era do DEMO o suplente de deputado distrital Geraldo Naves, que foi o portador do bilhete escrito por José Arruda para impressionar o jornalista Edmilson Edson dos Santos, de apelido “Sombra”, e, assim, levá-lo a aceitar ser subornado para forjar uma nova versão para os fatos favorável ao governador. Evidentemente que, com tantos papéis principais de filiados do DEMO nesse enredo trágico-cômico, ele só poderia, mesmo, ter recebido da imprensa o nome de “mensalão do DEM”.

Mas o deputado Paulinho Bornhausen está coberto de razão. Há, realmente, de se impedir as candidaturas de políticos que tenham fichas sujas! Mas não só dos condenados por tribunais superiores, como quer Sua Excelência. Primeiro, porque defender isso e não defender a supressão do “foro especial”, é o suprassumo da hipocrisia. E segundo, porque, no Brasil, os “políticos fichas sujas” serão os que arrombam, a ponta-pés, as portas dos cofres públicos; os rudes; os “mal nascidos”; que executam a ladroagem direta, sem triangulações complexas para dificultar a sua detecção; os que, não tendo grupo político consolidado, não usam “laranjas” nem “testas de ferro” nos avanços que fazem sobre o erário público; os temerários, que tendem, cedo ou tarde, a cair nas malhas cada vez mais finas de uma Polícia Federal competente e independente. Mas urge também levar-se em conta, na higienização da política brasileira, o zum-zum-zum, as línguas ferinas, os rumores, em suma, o que o povo fala à boca pequena, com medo das paredes ouvirem.

Não é possível que o gênio jurídico brasileiro não encontre, em pleno limiar do século XXI, meios e fórmulas legais que possam colocar sob a luz do sol não somente os casos de corrupção grosseiros, de que é exemplo notório, em Santa Catarina, o protagonizado pelo vice-governador Leonel Pavan, mas também aqueles outros que requerem muita expertise e extrema coragem para a detecção, porque urdidos por políticos que têm quinhentos anos de poder e outros tantos de malandragem...