quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entre os dois lados da mesma moeda

Por Marcos Bayer

    Do ponto de vista físico, este é o ponto mais estreito da moeda: O meio entre os dois lados. Assim na organização política da vida humana. Os gregos conceberam quatro formas de governo: Tirania, Oligarquia, Democracia e Aristocracia. Esta última seria a melhor porque os governantes seriam os mais sábios e íntegros. Roma concebeu a República e o Senado como instituições políticas para tomada de decisões e contra peso aos poderes do imperador. Faz mais de dois mil anos. 

 
    Somente em 1776 foi concebida e aceita a ideia do liberalismo econômico de Adam Smith. Em 1848 apresentou-se o Manifesto Comunista de Karl Marx. Só em 1917 se implantou o regime comunista, experiência fracassada por várias razões, entre elas a falta de liberdade, em 1989, na ex-URSS.

    Na crise de 1929, nos EEUU, quem salvou o capitalismo, através da intervenção estatal na economia, foi John Maynard Keynes.

    Ele e outros inspiraram a Europa do pós-guerra, em sua reconstrução, com recursos norte-americanos, o Plano Marshall, na direção do chamado e já em extinção Well Fare State.

    A China, desde 1949, passando pela Revolução Cultural de 1966 e outras várias subsequentes, montou a estrutura de produção, a mais eficiente da atualidade, baseada em abundância de mão de obra com os mais baixos salários do planeta.

    É a melhor aplicação da mais valia, já vista. A humanidade vive um clima de felicidade adquirida em prestações. A síndrome de mais uma transformação no caminho do homem. Centenas de canais de televisão, google, e-mail, facebook, twitter, celular, tablets, laptops, blogs e multimídias diversas. Pílulas para emagrecer, dormir, não engravidar, não deprimir e tonificar a musculatura. A medicina é capaz de intervenções no corpo humano sem abri-lo. Tudo é evolução. Para onde?

    Se todos os habitantes, sete bilhões hoje, tivessem o mesmo nível de consumo, teríamos que trazer Marte para mais perto, a fim de extrair seus recursos naturais. Supondo que houvesse o que extrair.

    O sistema de produção capitalista precisa ganhar em duas pontas, pelo menos: No pagamento da mão de obra e na aquisição dos recursos materiais usados no processo de transformação ou venda: Pode ser matéria prima, energia e até espaço físico para estocagem ou pontos de comercialização. É o sistema mais perfeito de retro alimentação já inventado pelo homem. Com alguns requintes: Os mantenedores da engrenagem são os pequenos e médios produtores. Estes são os que empregam e pagam os impostos. Os grandes operam o Estado, através de seus representantes políticos, obtendo as vantagens e ou facilidades de que precisam para permanecerem do tamanho que são e ou crescerem. Se quiserem exemplos, vejam a agroindústria nacional. Em escala mundial, vejam o setor de bebidas. Cervejas em especial, aviação em particular.

    Outro requinte espetacular do capitalismo puro é quem está fora, morre.

    Se o princípio que rege a vida, ou deveria regê-la, é a solidariedade, estamos longe dela. Quando a sociedade ocidental, na França, em 1789, pôs fim ao poder monárquico e concebeu um Estado, inspirado na liberdade, fraternidade e igualdade, a civilização avançou. Ela foi buscar inspiração em Atenas e Roma, cujo legado político é pedra fundamental para o Homem.

    Seguiremos, não há dúvidas, de ajustes em ajustes, como sempre foi e tem sido.

    Mas, repetindo Leonardo Boff, duas imagens aumentam: O esgotamento da Terra e a dificuldade de absorver e remunerar o trabalho humano.

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