segunda-feira, 16 de julho de 2012

UMA OUTRA VISÃO DO CARDEAL

    Por Janer Cristaldo

    Terça-feira passada, escrevi crônica saudando Don Eugênio Sales como intrépido defensor de terroristas. O intrépido vai por conta de Bento XVI, o terroristas vai por minha conta. Reproduzi informação que colhi em antiga edição do Jornal do Brasil, de que Dom Eugênio alugara no Rio de Janeiro, entre 76 e 82, 80 apartamentos para abrigar refugiados políticos de toda a América Latina, que chegaram a acolher grupos de 150, simultaneamente. O total de militantes hospedados naqueles anos teria chegado a cinco mil pessoas.

     Há divergências. Em artigo publicado no portal Terra, hoje, José Ribamar Bessa Freire desmente esta informação e dá um outro perfil do cardeal. Mas atenção: Bessa Freire é o mesmo professor da UERJ que escreveu artigo afirmando que Lupicínio Rodrigues foi preso e torturado durante meses pela ditadura. Fica uma pergunta: que interesse têm as esquerdas em promover um cardeal que seria defensor da ditadura? Segue excerto do artigo.
Dom Eugênio Sales era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura
POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

    Deus tá vendo

    E é aqui que entra a forma como a mídia cobriu a morte do cardeal dom Eugênio Sales, que comandou a Arquidiocese do Rio, com mão forte, ao longo de 30 anos (1971-2001), incluindo os anos de chumbo da ditadura militar. O que aconteceu nesse período? O Brasil já elegeu três presidentes que foram reprimidos pela ditadura, mas até hoje, não temos acesso aos principais documentos da repressão.

    Se a Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio último pela presidente Dilma Rousseff, pudesse criar, no campo da memória, algo similar à operação "Deus tá vendo", organizada pela Policia Civil do Rio Grande do Sul, talvez encontrássemos a resposta. Na tal operação, a Polícia prendeu na última quinta-feira quatro pastores evangélicos envolvidos em golpes na venda de automóveis. Seria o caso de perguntar: o que foi que Deus viu na época da ditadura militar?

    Tem coisas que até Ele duvida. Tive a oportunidade de acompanhar a trajetória do cardeal Eugênio Sales, na qualidade de repórter da ASAPRESS, uma agência nacional de notícias arrendada pela CNBB em 1967. Também, cobri reuniões e assembleias da Conferência dos Bispos para os jornais do Rio – O Sol, O Paiz e Correio da Manhã, quando dom Eugênio era Arcebispo Primaz de Salvador. É a partir desse lugar que posso dar um modesto testemunho. Leia tudo. Beba na fonte.


Velho Mamute comenta: Canguita, como no outro post os coments em geral estavam no nível do Prates, preferi trazer a manifestação de um ATEU que conviveu com Dom Eugenio, e não rastaqueras de manual stalinista que papagaiam sandices. Crente ou não crente, contra ou a favor, o testemunho vivo me vale mais que a opiniao simplista e repetitiva de quem nao conheceu ou conviveu com Dom Eugenio. E não falem mal do laureado escritor e cronista que testemunha a favor apenas porque recebeu indenizaçao. Ao menos neste espaço. Abç Paulao

Dom Eugenio

Por Carlos Heitor Cony

RIO DE JANEIRO - Se fosse muçulmano, umbandista, técnico de futebol, comunista ou lixeiro, dom Eugenio Sales seria o que sempre foi: um homem reto, sincero, fiel a seus princípios e, sobretudo, humano. Acontece que foi sacerdote, bispo e cardeal. Sua trajetória tinha um ponto de referência lá em cima -no caso dele, o Deus no qual acreditava e a igreja à qual servia em tempo integral e em modo total.

Conservador, sim, e mais do que isso: coerente e sincero com sua forma de pensar e agir no mundo. O pessoal de certa esquerda o criticava porque não bajulava causas e doutrinas que entravam em moda. Ele fizera sua opção básica por uma religião estruturada, multissecular, que passara por um "aggiornamento" no Concílio Vaticano 2º. Não trocaria esse corpo de pensamento social e ação por um marxismo superado, um socialismo terceiro-mundista e badalativo.

Além da doutrina tradicional da igreja à qual serviu, atualizou-se com as encíclicas que foram até citadas por João Goulart no famoso comício de 13 de março de 1964: a "Mater et Magistra", a "Populorum Progressio" e a "Pacem in Terris". Pessoalmente, creio que nem Jango nem a turma que o cercava tivessem lido (ou entendido) os documentos que gostavam de brandir para amenizar resistências numa sociedade que, afinal, se rotula de cristã ocidental.

Protegeu perseguidos políticos daqui e de fora, com uma firmeza que desarmava os militares. Eu próprio, em certa época, fui rastreado por ele e por dois de seus auxiliares, dom Eduardo e dom Rafael.

Em alguns momentos de perigo que atravessei, ia dormir na casa de dom Eugenio, no Sumaré, quando fumávamos nossos charutos. Detalhe importante: ele nunca me chamou pelo meu nome usual, mas de Heitor. Como meu pai e minha mãe.

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