Recebi hoje a visita de uma grande amigo e colega de profissão. O Chuvisco, Luiz Fonseca, é amigo de longa data. Trabalhamos juntos no DC, logo no começo. Turma boa: Gaguinho, Armando Burd, Belmiro, Diabão, Zuba e por aí vai.
O Chuva, hoje, trabalha em Brasília como assessor do senador Pedro Simon. Uma visita destas num sábado chuvoso e plumbeo é um privilégio. Tentamos botar os assuntos em dia. Impossível. Até acredito que não existe essa de botar assunto em dia. Sempre fica um saldo e conforme a amizade parece que o saldo cresce mais ainda.
Ao redor da mesa da cozinha, adoro receber amigos na cozinha, conversamos e viajamos pelo mundo, pelo mundo virtual e por países da Europa. Claro, o leptop aberto sobre a mesa era acessado a todo o momento e por incrível que pareça não representava uma falta de atenção com as visitas. Pelo contrário, recorríamos todos ao mundo virtual para tirar dúvidas, mostrar trabalhos, fotos de viagens e, inclusive, para tirar dúvidas sobre o autor de um certo livro...ih! não lembro o nome do cara!
Pronto, vai no google e resolve. É isso aí, está tudo lá.
De repente a companheira do Chuva começou a contar sobre uma viagem que fez às ilhas gregas. Falou de uma amiga que estava trabalhando em escavações arqueológicas em uma das ilhas. Lembrei de Creta e imediatamente me veio à cabeça a figura de Teseu enfrentando o Minotauro.
Não tinha certeza se o labirinto onde o Minotauro estava preso era em Creta e rapidamente levantei, fui até a sala e peguei Os doze trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato.
Não entendi porque não recorri ao Google. Foi muito legal o "choque de ferramentas". As Obras Completas de Monteiro Lobato foram a minha primeira leitura. Meu pai, o "guarda" Rubim, não tinha o primário completo mas sabia que o segredo da formação dos filhos estava nos livros.
Certo dia, em plena ditadura, apareceu em casa um grande amigo do Pai que estava sendo perseguido pelos milicos e, sem emprego, começou a vender livros. O seu Lacy Osório, poeta comunista, nascido em Alegrete, morava em Porto Alegre. Eu tinha meus 12 anos e lembro do "seu" Lacy, na sala, mostrando aqueles prospectos coloridos de coleções de livros. Tinha Life, Delta Larousse e mais um monte de janelas mágicas para o mundo que surgiram de repente na minha vida e me deslumbraram.
Lembro que em um determinado momento da negociação dos livros o "seu" Lacy começou a declamar uma poesia que exaltava uma "Ilha". Pegou "vento na camisa", a voz aumentou de volume e a mãe imediatamente fechou a porta de frente e a janela. Não entendi direito aquela ação. Mais tarde descobri que a poesia exaltava a revolução cubana.
A coleção tem vários livros, desde Emília no país da Matemática até Reinações de Narizinho. O "Sítio" é pinto, eu bebi na fonte. Lia diariamente escutando Ray Coniff. Colocava até quatro long plays na eletrola Telefunk e mandava ver. Tenho a coleção dos livros verdes até hoje. Hoje recorri a eles. Foi uma experiência fantástica.
Gosto demais dos teus posts em que contas um pouco da tua vida, dos amigos, da mãe, das leituras. São raros, mas ótimos. Monteiro Lobato inventou gerações de escritores. Quem leu Lobato nessa coleção verde que tens, que foi a mesma que eu tive e repassei para a minha gurizada, com aquelas letras grandes, redondas, limpas, tudo sem acento inútil, cheias de imaginação e conhecimento, foi encaminhado para uma vida adulta plena, a que se soccorre dos livros e autores e tem parâmetros para tudo. Muito emocionante. E a convivência das "ferramentas": super importante, pois a tendência é jogar o que é considerado "antigo" no lixo. Tudo é soma e projeção para o futuro. A verdade é que no Brasil há uma divisão clara: os que foram "criados" por Monteiro Lobato e os que não foram.
ResponderExcluirOlá, Sérgio, salve!
ResponderExcluirBem a propósito, me incluo entre os que foram "criados" por Monteiro Lobato...
Não chegou a "boçalidade" de dizer que o li aos cinco anos, como o tal da publicidade, mas entre os nove e treze anos, seguramente... Todos os volumes da obra dita infantil...
Essas leituras todas foram conjuminadas com as outras, não menos importantes do Karl May (os trinta volumes traduzidos pela Editora Globo de Porto Alegre) um escritor alemão que nunca saiu do seu gabinete e criou personagens que andaram poelo mundo, destaque para o Winnetou e o "Mão de Ferro" alter ego do autor e por conta do qual teve de responder inúmeros processos...
Assunto para outro dia...
Um abração do viking!
Oi!
ResponderExcluirApenas para complementar: Segundo a wikipédia, "O Minotauro tinha corpo de homem e a cabeça de touro. Era uma criatura selvagem, e Minos, após receber um conselho do Oráculo de Delfos, mandou Dédalo construir um labirinto gigante para conter o Minotauro. Este foi localizado sob o palácio de Minos em Cnossos." Cnossos é em Creta, logo, tua primeira lembrança estava certa: O Minotauro foi colocado em um labirinto em CRETA! Maria do Céu