sábado, 15 de agosto de 2009

Grata surpresa


Recebi meu irmão hoje para um churrasquinho básico. Vazio (fraldinha) na brasa, regado à cerveja. Há tempos não queimava um boi. Chuva, vento sul e frio tem me obrigado, nos fins de semana, a praticar outros hábitos culinários.
Mas o legal de tudo foi o presente que meu irmão me trouxe: um exemplar, talvez o único, da Revista Alvorada.
Em 1964, dezembro, meu pai Waldemar Rubim resolveu editar uma revista "comemorativa ao Natal". O pai teve a primeira tipografia de Quaraí. A Tipografia Alvorada. Já relatei a minha iniciação nas artes gráficas e mais tarde no jornalismo. Eu tinha 11 anos e estávamos em plena vigência do golpe militar. O pai já tinha "sentado praça" umas três vezes. Ele falava assim toda a vez que era chamado no quartel para prestar depoimento e se defender de alguma denúncia feita por desafetos da UDN. Era presidente do PTB na época.
Na verdade quem administrava a tipografia era a mãe. O pai era funcionário público federal. Guarda Aduaneiro. Cuidava da fronteira. Sempre teve empreendimentos mas no nome da mãe e ela que administrava. Resolveram editar uma revista. Tudo isso era discutido em casa depois da janta, na sala, em frente aos filhos.

A cada idéia nova eu ficava iluminado. Lembro da contrução da idéia de editar a revista.
A quem recorrer para escrever a apresentação.
Tinha que ter poesia. Quem?
E a revisão? Era importante.
Lembro do pai dizendo que tinha que ter uma página sobre a história de Quaraí.
Enfim, para mim, era "uma África"!!!

Hoje vejo estas páginas amareladas e volto no tempo.
No toque do papel percebo as diferenças de gramaturas. A página de apresentação tem um sulfite acetinado 75 gr. Diferente do superbond do miolo. Se esmeraram na apresentação.
O texto, do meu professor de português Luiz Pozer, é cercado por uma moldura de belíssimas vinhetas tipográficas. Obra de arte do meu tio Pedro Flores. Tipógrafo de mão cheia. Culto. Comunista. Me falava de teatro, sobre a Espanha, que amava, e sobre a guerra civil espanhola. Me falava também sobre os Montes Urais, na Rússia. Ah! O tio Pedrinho!

Em uma das páginas da Alvorada tem a relação dos formandos de 1964 do Ginásio Prof. José Diehl. Dou uma olhada nos nomes e encontro conhecidos. Todos da geração dos meus irmão mais velhos. Está lá a Maria Amélia Ribeiro, irmã do famoso Gaguinho, o jornalista José Antonio Ribeiro. Está também Hélio Santos dos Santos, arquiteto, com quem muitos anos depois trabalhei em Porto Alegre e fui iniciado nas artes do desenho arquitetônico. Vivi disso muito anos, inclusive aqui em Florianópolis.

Observo as fotos dos comerciais e lembro que foi a primeira vez que usamos, na tipografia, clichês de poliester. A qualidade da impressão era superior. O material era mais leve e resistente ao risco.
A propaganda do Miguel Rivero S.A. vinha com as fotos do Gordine, Aero Willys e do Puma, o primeiro esportivo brasileiro em fibra de vidro. A matéria plástica entrava com tudo na nossa vida. Clichê de poliester e carro de fibra de vidro. Tudo plástico. Era uma revolução!

Um belo presente/passado de domingo. Obrigado "tio" Éio!

Um comentário:

  1. ...E 45 anos depois...."uma Africa" nas ideias!!!
    Abraço. Everton

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