domingo, 9 de agosto de 2009

DE MALABARES E OUTRAS ARTES


Por Olsen Jr.

O pensador espanhol Ortega y Gasset afirmou que “o homem é ele e suas circunstâncias”... Por dedução, cabe a nós formar estas circunstâncias humanamente. Lembrei disso agora a propósito de recente medida da prefeitura em se retirar das ruas os chamados malabaristas: aqueles que detêm certas habilidades manuais, e mediante dedicação e treinamento as transformam em arte, com isso arrecadam algumas moedas em cruzamentos e vias de grande fluxo de pedestres e automóveis.

O exercício de uma arte (qualquer que seja ela) em lugares públicos é tão antigo quanto a existência dos seres humanos organizados em sociedade. Óbvio, portanto, que o cultuador de algo que transcenda a ocupação dita natural de seus semelhantes, possa revelar seu próprio talento (quando existe um) em locais onde esse conhecimento e aptidão possam ser apreciados. Quanto mais gente puder admirar tal ato, maior o reconhecimento para o artista, e se puder ser remunerado, melhor. Trata-se de uma ocupação honesta como qualquer outra, com a diferença adicional de que dispensa ensino regular universitário, uma vez que não se criou ainda uma universidade capaz de criar virtuoses de qualquer espécie.

O gênio é quase sempre um inconformado com o que é convencional limitado por regras e métodos. Os pais de Albert Einstein foram recomendados a tirá-lo da escola porque ele não mostrava aptidão para assimilar o conhecimento básico oferecido pelo currículo.

O que move o administrador público de uma urbe a se preocupar com tal ocupação nas ruas? Sim, porque os argumentos, evocados para retirar os malabaristas dos entroncamentos, de que atrapalham o trânsito e ainda expõe em risco a própria vida, não vale para os vendedores de jornais, balas, santinhos, para os difusores de lojas com panfletos publicitários e também os divulgadores com portfólios de empreendimentos imobiliários.

O ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, aquele mesmo que se notabilizou por combater a máfia e posar de “presidente” após os atentados de 11 de novembro de 2001, fez o mesmo na cidade que administrava, mandou retirar toda e qualquer espécie de demonstração artística das ruas com o argumento de que os seus “artífices/artistas” não pagavam impostos. A indignação foi geral. Tem determinadas demonstrações do individualismo humano que uma metrópole assimila e absorve como parte de sua alma, de uma vida que pulsa no seu interior sem a qual ela, a cidade, não é o que é.

Foi andando em uma das ruas da Big Apple que um empresário descobriu o gênio da guitarra, Stanley Jordan que, aliás, já se exibiu em Florianópolis com enorme sucesso.

Soube pela imprensa que se “usou” a mesma argumentação na capital catarinense: proibiram-se os malabaristas e suas exibições porque não pagavam impostos. Well, então, se o artista resolvesse registrar uma “empresa” e pagar os impostos do seu ganho nos semáforos e sinaleiras da vida, então sua arte seria liberada para exibição?

Será que o dinheiro e sua arrecadação em forma de impostos é o que move a “genialidade” de nossos homens públicos? É, porque no presente caso, as outras condições para a proibição deles nas ruas, permanecem: “atrapalhando o trânsito... Pondo em risco a vida” e outros senões de igual inconformismo obtuso.

Mas o pior de tudo não é nada disso, é a total ausência de um projeto de gestão pública onde uma manifestação artística pudesse ser incorporada como um fenômeno humano natural e não como uma excrescência.

Aliás, excrescência é o que se tornaram alguns homens que ocupam cargos públicos.



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