Por Olsen Jr.
O título aí é uma homenagem ao ator, escritor e compositor Mario Lago, embora não vá falar dele. Claro, tem a ver com o tempo, passado, presente, mas também nem sei como tudo isso começou. Lembro de ter ouvido o meu irmão falar de uma coleção de discos do Raul Seixas. Logo ele que era fã do Raulzito (esse era o apelido do músico) e tinha tudo o que ele havia gravado no mercado brasileiro.
A história, digamos, teve um início, quando pretendeu impressionar uma namorada e emprestou toda a coleção para ela. O tempo passou, o romance acabou e ele, sem jeito, terminou deixando os LPs e compactos com a moça. A bem da verdade tentou até dissimular um súbito “falso interesse” pelo artista, tentando com isso amenizar a dor daquela perda, mas foi inútil, como pude constatar. Passados mais de 40 anos e ele ainda lembra de tudo com certa nostalgia, daquele tempo passado e dos discos que compunham aquele mundo naquele tempo. Muita irreverência e deboche, um “não estou nem aí” com a sociedade ou como diria o Paulo Francis “não importa que a mula manque, eu quero é rosetar”.
Mas então, para não deixá-lo sozinho naquela recordação, mencionei o fato de que eu mesmo tinha vivenciado algo parecido, afinal durante muitos anos colecionei selos, trocava, comprava e ganhava. Um dos amigos dos nossos pais, sabendo disso, me deu uma coleção inteira que ele fazia quando era guri, depois tinha perdido o interesse e então, acreditava, a coleção estava em boas mãos e continuaria sendo ampliada. Tudo ia bem até conhecer uma dessas moças pela qual a gente se apaixona na infância... Lá pelas tantas, lembro, ela perguntou se eu não gostaria de “vender a minha coleção de selos para ela”... Pô! O cara fica ano e mais ano catando um selo aqui e outro acolá, comprando, barganhando, indo atrás e um belo dia, uma “zinha” qualquer chega e te lasca na cara: “quer vender?”... Fiquei tão injuriado com a proposta que dei a coleção inteira para ela... Nunca mais quis saber da mulher e muito menos de selos, mas até hoje me lembro disso, o que mostra que o incidente deixou marcas, igualmente.
Depois tem a interferência daquele amigo contando que durante muito tempo assinou uma coluna de livros num jornal diário e por conta disso ganhava e acumulava considerável número de exemplares compondo em menos de dez anos uma biblioteca de cerca de três mil exemplares. Mais tarde o casamento não deu certo e ele sai de casa sem levar nada acreditando que aqueles livros seriam um bom investimento para o aprimoramento da educação do filho. Só teve a certeza de que aquela perspectiva não iria funcionar quando encontrou uma amiga dos tempos em que estava casado e ela afirma que ganhou vários livros de sua ex-mulher... E assim, aos poucos viu sua biblioteca ser distribuída sem muitos escrúpulos pela vizinhança afora.
Well, os exemplos não inúmeros. No princípio, quando somos jovens, temos o arroubo das paixões, somos dominados por elas, também nos atochamos de heroísmos acreditando que tais atos são dignos de sacrifícios e como os heróis de nossas próprias histórias, estamos sempre prontos para nos sacrificar pelas “causas”, as grandes causas que nossas paixões despertam, huumm!
Mais tarde, as paixões e os arroubos são outros e já não temos a certeza das “grandes causas” e, no entanto, ainda estamos dispostos a fazer algum sacrifício, não necessariamente voluntário, como uma separação não prevista possa sugerir, mas até nessa hora buscamos no fracasso alguma virtude: na biblioteca que fica para um filho, nas obras da Simone de Beauvoir que a ex-mulher desperta súbito interesse na partilha, ou naquela coleção de livros de escritores latino-americanos...
E logo você que acreditava que ela só gostasse mesmo era de sapatos e não dava importância para os livros, veja só!
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