sábado, 1 de agosto de 2009

Nei Duclós comenta

sobre "FOLHA CONTINUA DANDO ESPAÇO A IMORTAL IMORAL":

A Folha deixou de ser esse jornal quando houve a intervenção na época do Claudio Abramo, que tinha feito uma revolução editorial. Abramo transformou um veículo provinciano num jornal de nível nacional. Com a derrubada de Abramo pelo ministro da guerra Sylvio Frota, no final dos anos 70, o velho Frias (que contratou Abramo pressionado pelas mudanças que ele tinha feito no Estadão) se retirou e assumiu o Frias Filho, que usou a casca, a imagem de credibilidade para trair o que tinha sido feito por Abramo. Veja que as páginas dois e três são idênticas às dois e três da época de Abramo, só que com outro tipo de, digamos, articulistas.

Friasinho fechou o Folhetim, o jornal alternativo dominical e sucesso absoluto, criado por Tarso de Castro (que foi defenestrado pela nova direção) e o substituiu pelo execrável Folhateen (título que é um deboche), o tautológico encarte promotor da idiotia consumista da adolescência. Transformou a Ilustrada, que era um caderno de reportagens culturais (trabalhei nela na época de Abramo e Tarso) numa vitrina do show biss e numa sucessão de textinhos recorrentes sobre algumas obsessões da nova redação (como o tal conjunto Smiths, que sumiu do mapa). A equipe original de Abramo foi expurgada dos seus talentos com a greve de jornalistas fracassada de 1979 (eu tinha sido convidado pela IstoÉ e saí antes que viesse o massacre). Ao mesmo tempo, jogou pesado no marketing do jornal, elevando à categoria de gênios da cocada preta o pequeno grupo de energúmenos que fizeram pose de os verdadeiros revolucionários do jornal (que até lançaram um livro sobre seus feitos, com título usando a expressão “mil dias”, clonado da obra de "Arthur M Schlesinger Jr, Mil Dias John F Kennedy na Casa Branca – o que dá bem a idéia da pretensão da turma).

Assim, foi mais uma traição do Brasil varonil. Os leitores achavam que estavam lendo um jornal de verdade, modificado e ele já tinha sido sucateado, mas enganou porque manteve a pose (e alguns talentos que sobreviveram, como Jânio de Freitas, Clovis Rossi, Angeli, o que mantinha a aparência de que a Folha continuava no combate).

Hoje, toda essa falcatrua foi desmascarada. O que a Folha é não pode negar desde que essa nova direção assumiu há 30 anos. Não devemos nos iludir. Eles merecem o Sarney, com quem estão abraçados, pois fazem parte da grande traição de 1985, quando o regime de 64 foi apelidado de democracia e continuou em vigor.

Mas vai dizer isso nas mesas de luxo dos neo-democratas. Eles não são pessoas comuns.

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