sábado, 8 de janeiro de 2011

A CONSCIÊNCIA DE UM POETA

Por Olsen Jr.

Evidentemente nossa época não é a da poesia, muito embora sempre haja um lugar para ela. Sozinho fiz muito pouco e posso concluir que anda falta muito. Mesmo assim, nada teria sido possível sem uma pequena ajuda de meus amigos.
Observe o que pensam do que faço e, ainda, o que faço para que eles continuem pensando:
Se colaboro com jornais de fora, dizem que pretendo aparecer; se deixo de colaborar, afirmam que não quero nada com nada e sou um acomodado; se permaneço em casa trabalhando dia e noite, pregam que estou perdendo tempo e que não vou ganhar a vida com a literatura; se monto um esquema de trabalho e o cumpro à risca, creem que sou bitolado e escravo do horário; se me inspiro no dia a dia, observando a realidade que me circunda, argumentam que “inspiração já era” e que o negócio é por o cérebro para funcionar e criar; se me esforço por fazer, dando tudo de mim para amenizar esta vida conturbada, alegam que estou é tentando criar caso; se falo de quem está bem, pensam que estou puxando o saco; Se denuncio as injustiças e a exploração dos menos favorecidos, imaginam que ambiciono faturar em cima da pobreza; se menciono o que está errado, aconselham-me a não me envolver em encrencas; se comento o que me parece ser acertado – grande coisa – todos já sabiam; se brigo com o fulano porque suponho que ele está monopolizando, garantem que não vou salvar o mundo; se não me envolvo, sou alienado e não enxergo um elefante a um palmo do nariz; se busco os fatos pequenos nos subúrbios, salientam que me estou preocupando com uma coisa à toa; se me embrenho nos ditos problemas grandes, contestam-me porque os pequenos acontecimentos é que trazem os maiores benefícios; se procuro conhecer as pessoas convivendo com elas, participando de suas reuniões, repetem que um poeta deve ser um homem solitário, preocupado com suas introspecções; se ponderando, concluo que eles podem estar certos e retiro-me do convívio social, sou chamado de misantropo e de maluco; se, ainda indeciso, procuro mais uma vez acertar, apostam que não tenho iniciativa e que sou um ergófobo ou um moleirão; se me proponho a melhorar, empenhando-me de corpo e alma nestas dúvidas, sou masoquista e não sei viver; se recomeço a viver, divertindo-me e esquecendo um pouco o trabalho, conjecturam que sou extremista e preciso ser mais flexível; se num esforço inaudito consigo conciliar o trabalho, lazer e preocupações, juram que estou perdido e não tenho mais remédio; se paro para pensar, sentem que não sei o que quero; se faço o que sei mostrando o que quero, acrescentam que estou na profissão errada e, finalmente, quando resolvo argumentar, afirmando que estou farto de ser alvo de repressões, que estou cansado de colaborar com uma sociedade injusta e quem tenciono furtar-me às críticas, eles ainda ponderam: “mas também, você não faz nada, pô!”

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