Quando assisti o documentário da TV Câmara sobre O Pasquim, que está abaixo aqui no blog, achei que cometeram uma injustiça histórica em citar tão pouco o nome do jornalista Tarso de Castro. Mas o que mais impressiona é que em todos os documentários sobre o Pasquim, os entrevistados jamais falam no véio. Deve ser aquela fogueira de vaidades que existia no hebdomadário carioca, criado pelo gaúcho.
Mas não fui só eu que sentiu esse "esquecimento". O amigo jornalista Nei Duclós não só sentiu isso como se manifestou em comentários para o blog.
Reproduzo abaixo a parte inicial de Cinco vezes Tarso de Castro de Nei Duclós. Um relato divertido sobre esse personagem tão ímpar do jornalismo brasileiro.
Cinco Vezes Tarso de Castro
Por Nei Duclós
- Vamos fechar essa merda em cinco minutos!
Era um dos muitos gritos de Tarso de Castro, anunciando sua má vontade em participar diretamente do fechamento da Ilustrada, suplemento cultural da Folha de S. Paulo, no final dos anos 70. Ele era obrigado a fazer isso quando o editor Antonio Carlos Coutinho, o Zuba ( hoje proprietário e diretor da revista Expressão, de Florianópolis) tirava férias. O fechamento não podia atrasar nem um minuto depois das oito horas. Tarso chegava às cinco, anunciava-se e sumia (Estava no bar? Estava no último andar? ). Voltava um pouco antes das oito (quando conto essa história, gosto de dizer: “ele voltava às cinco para as oito”). E realmente fechava em cinco minutos.
Pegava as tripas de laudas (que na época era coladas, formando serpentes de papel) com um braço só, levantava até os olhos e tascava:
-Jesus é Oxalá.
E caía na gargalhada. Era o título – que ele não escrevia, apenas ditava – de uma matéria sobre sincretismo religioso, já que a Ilustrada de Tarso não se dedicava apenas ao show- biz, nem a pauta era ditada pela indústria cultural. A equipe tinha autonomia e cada repórter ou redator assinava embaixo, tanto a notinha quanto a reportagem.
Tarso pegava a outra tripa de laudas e ditava a legenda de um perfil de Lacerda:
- Abre aspas: ao invés de tomarmos o caminho do Canadá, tomamos o caminho da Índia.
Admirava, apesar de ser seu inimigo político, o frasista Lacerda, que era o verdadeiro autor da expressão “fi-lo porque quilo”, em resposta à pergunta “por que fê-lo?”, de Jânio. Este, a quem normalmente é atribuída a boutade, jamais faria brincadeiras com a língua, que levava a sério. Eu desconfiava daquele fechamento, que acreditava feito nas coxas. Imaginava que ia dar tudo errado.
Mas no dia seguinte, ao abrir o jornal, tudo fazia sentido: os títulos, as legendas, a disposição das matérias. O fechamento, que para nós custava muita dor de cabeça, para ele era um jogo. Sua cabeça estava solta e o olho clínico, atento.
Leia o texto completo bebendo na fonte.
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