Criminalidade atua com desenvoltura no distrito de Santo Antônio de Lisboa
O cotidiano do distrito de Santo Antônio de Lisboa não é só de falta d'água e rede de esgotos inacabada: a violência cresce sob os olhares pasmos das autoridades sem recursos para agir, tornando o cidadão um quase-refém da criminalidade. Muitos já começam a "encastelar" suas casas, dotando-as de muros muito altos, cobertos por pregos e cacos de vidro, câmeras de vigilância, cães latindo a noite toda, vigilantes, sensores e alarmes, grades e outros equipamentos.
O relato abaixo do jornalista Áureo Moraes, professor do curso de Jornalismo da UFSC e morador de Cacupé, retrata a apreensão e o medo que começam a dominar as comunidades do distrito. Cenas como a que vamos conferir já se registram em estabelecimentos e residências do distrito de Santo Antônio de Lisboa, mas sem a presença de um jornalista para reportar a dramaticidade de um evento desse tipo. (Celso Martins)
" Em quase cinco décadas de vida passei, no final da tarde de hoje, sexta-feira, por uma situação que nunca tinha vivido: fui assaltado a mão armada, às seis da tarde, enquanto aguardava para pagar a conta em um posto de gasolina na SC-401!!!
Voltava do centro da cidade quando parei para comprar cigarros. Faço isso todos os dias, no mesmo horário, no mesmo posto - o último antes da entrada do cacupé, onde moro. Em segundos, dois garotos - nem sei se não eram "dimenor" -, entraram, um deles com um 38 muito velho nas mãos e anunciaram o assalto. Foram direto no caixa, abordaram a mulher - que eu penso ser a gerente do posto. Pediram todo o dinheiro do caixa. Um deles, com a arma, ameaçou a mim e a outro cliente e exigiu o dinheiro que tínhamos. Nervosos e frágeis até, com um corpo miúdo, tal qual meu filho de 16 anos, tão rápido quanto chegaram, saíram... estavam em uma moto - cuja placa eu anotei e no mesmo instante passamos à polícia.
Reitero: eram seis da tarde. Eles chegaram sem capacete, sem esconder a placa da moto, em meio a mais ou menos 20 pessoas! Em minutos ameaçaram, intimidaram, assustaram cidadãos que pagam seus tributos em dia e que estavam de passagem. Assim que saíram, outros clientes que entraram na loja de conveniência e alguns dos funcionários do posto sequer perceberam o que, segundos antes, havia ocorrido. Logo após a fuga, uma cliente entrou com uma criança de, no máximo, 6 anos. Que risco!!
Enfim, amigo, é um desabafo. Quanta insegurança, fruto, talvez, da tal sensação de impunidade na qual se escoram estes meninos que, julgo, estavam sob efeito de drogas ou em direção a elas.
Em inúmeras idas a São Paulo e Rio de Janeiro, sempre que perguntado sobre violência, minha resposta foi, invariavelmente a mesma: nunca, nas cidades mais "violentas" do país, presenciei qualquer circunstância sequer próxima desta.
No entanto, em Florianópolis, sexta-feira, 18 horas, em um posto de gasolina, vi uma arma a centímetros do meu peito".
Aureo Moraes
Jornalista
Canga, estou repetindo porque não sei se tive sucesso não primeira tentativa.
ResponderExcluirCaro Canga:
Não gosto de comparações. Mas, diante do relato do amigo Áureo, acho importante fazer o registro do que testemunhei em Rainha do Mar, pequena praia gaúcha tipo a Daniela, onde passei duas semanas na casa de uma irmã, na Avenida Beira Mar.
Lá, como se sabe, existe a Brigada Militar, semelhante à nossa PM. Além do policiamento interno e na praia feito por brigadianos vestidos à rigor – boné, um colete sobreposto a uma camiseta de manga curta, bermuda e sandálias – existem viaturas e motos que circulam o dia inteiro pelas ruas do balneário. Perdi a conta de quantas vezes no tempo em que estive lá, tirando o carro da garagem ou sentado no varandão, acenei para os policiais que passavam na frente fazendo a ronda.
E quando iniciei de carro às seis da manhã minha viagem de volta, na ultima sexta-feira, passei por duas viaturas da BM no trajeto de mais ou menos 10 quilômetros entre Rainha do Mar e Capão da Canoa, saída para a duplicada BR-101 do RS. Isso no comecinho da manhã, meu amigo.
Não tenho números para confrontar o que acontece lá e aqui. No entanto, pela ausência de noticiário na mídia de ocorrências policiais graves, e pelo que testemunhei, a presença ostensiva do policiamento naqueles balneários deve fazer a diferença.
E digo ao Áureo que há quatro anos, quando morei no Campeche, em rua próxima ao supermercado Dezimas, tive a casa invadida no meio da madrugada enquanto dormia. O sujeito já subia a escada quando o alarme o pôs para correr. Em outro incidente, numa festa na mesma casa, tive que botar pra fora dois “invasores” que decidiram então apedrejar os carros dos meus convidados. Com a chegada da PM – não lembro quanto tempo depois por causa do nervosismo no momento -, comentei sobre a sensação de insegurança. Como resposta ouvi de um dos soldados: “vá se queixar para o governador”.
Abração, Mário Medaglia