domingo, 9 de janeiro de 2011

MANGUEZAL DO ITACORUBI

Por Edison da Silva Jardim Filho

Dos ecossistemas de Florianópolis, o Manguezal do Itacorubi, localizado no final da avenida Beira Mar Norte, encontra-se no topo do rol de minhas- hoje acentuadas- preocupações ecológicas, as quais, tenho até vergonha de confessar, não são tão antigas assim. Acho que a imensa simpatia que sinto pelo Manguezal do Itacorubi vem do seu notório abandono pelo poder público, apesar de por ele passar, correndo ou andando, ou de bicicleta, meio mundo de Florianópolis.
Lembro que a ficha da omissão e do descaso com que o poder público estadual e municipal trata a esplendorosa natureza da capital do Estado de Santa Catarina, caiu para mim num final de tarde quando eu saía do expediente na Celesc, onde exercia a função de advogado. Estava no meu carro na avenida Madre Benvenuta, na qual está situado o Shopping Iguatemi e que dá acesso à avenida Beira Mar. A gestão da prefeita Angela Amin se encerrava. Eu olhei no morro em frente e vi a ocupação caótica onde deveria reinar somente a mata atlântica.
Passado um tempo, já na gestão do prefeito Dário Berger, deparei-me com este no hall de entrada da Celesc. O prefeito estava acompanhado do seu então secretário de turismo, Mário Cavallazzi. Após ambos terem me cumprimentado muito amistosamente, eu fui nas carótidas do prefeito- enfático, como sabem que sou os que me conhecem-, reclamando da situação “vergonhosa” em que considerava encontrar-se a natureza de Florianópolis. O prefeito, então, deu um tapinha nas minhas costas e falou: “- Jardim, culpa da Angela! Culpa da Angela!” E os dois, rindo, entraram no elevador.
Pouco depois, estourou a denominada: “Operação Moeda Verde”, que investigava a venda de licenças ambientais e envolveu o prefeito Dário Berger e vários importantes secretários seus, além de grandes empresários e vereadores, sendo que muitos deles chegaram a ser presos pela Polícia Federal.
Evidentemente que a culpa também era da Angela Amin...
Mas, voltando ao Manguezal do Itacorubi, que é a única razão deste artigo. Há muito tempo atrás, eu adquiri, em um sebo, o livro intitulado: “Uma cidade numa ilha/Relatório sobre os problemas sócio-ambientais da Ilha de Santa Catarina”, elaborado pelo “Centro de Estudos Cultura e Cidadania- CECCA” (não sei se ainda existe), que foi publicado pela Editora Insular Ltda. em 1996, portanto, há quatorze anos. Nele, por incrível que possa parecer, estão esmiuçados todos, absolutamente todos os problemas de que padecemos, hoje, em Florianópolis, e, sendo assim, traz informações preciosas e, suponho, atuais sobre o Manguezal do Itacorubi. Registra que ele “recebe os efluentes de esgotos sanitários de toda a populosa região da Bacia do Rio Itacorubi, que drena grandes bairros da cidade como a Trindade, o Pantanal, o Córrego Grande, o Itacorubi e o Santa Mônica”, bem como os “efluentes tóxicos do tipo industrial (metais pesados e outros), provenientes dos laboratórios da Universidade Federal de Santa Catarina”, e o “chorume (líquido viscoso proveniente da decomposição e compactação do lixo)” que o aterro sanitário que existia no bairro Itacorubi continua a depositar em suas águas, “uma vez que após a desativação” do mesmo, “não foram tomadas medidas sanitárias adequadas para coleta e tratamento destes efluentes.” No livro, consta também a informação de que a UFSC “afirma que não efetua mais tal emissão, mas que, porém, não possui ainda uma solução definitiva para o problema.”
Recentemente, resolvi dar uma andada pelo calçadão da avenida Beira Mar e aproveitei para verificar a situação do Manguezal do Itacorubi. Muito lixo e de todo o tipo sobre a sua vegetação e águas; o caminho de madeira pelo qual se chega ao seu interior, com muitas tábuas arrancadas e algumas soltas; bancos de que só restaram a carcaça; e ranchos e casas- algumas ótimas-, de material, construídos sem se saber se dentro ou fora dele. Por tudo o que vi, saí com a certeza de que o que era para ser um dos pontos de visitação dos turistas, virou a prova mais cabal do descaso e da omissão do poder público em relação ao meio ambiente florianopolitano.
Não sei se chegarei a assistir, mas haverá o dia em que um prefeito ou prefeita de Florianópolis, enfim sensível aos problemas ambientais, terá a luminosa ideia de liderar um esforço conjunto para, pelo menos, descontaminar as águas do Manguezal do Itacorubi dos efluentes tóxicos e do chorume, não sem antes, obviamente, estancar as suas causas.

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