O amigo, escritor e jornalista Olsen Jr. está de volta. Para alegria dos leitores o "Vinking" resolveu retornar às suas crônicas semanais. Não fala da ausência e dá uma reclamada na dificuldade que está tendo com a "maquininha", essa que chamamos de computador. Está aí a sua primeira crônica pós-férias.
Seja bem-vindo.
O REFORMADOR DO MUNDO
Por Olsen Jr.
O título aí foi emprestado de Monteiro Lobato. Aliás, o autor voltou para as primeiras páginas depois que alguém do governo viu uma ponta de racismo em uma de suas obras infantis e tentou proibi-la. O obscurantismo não é privilégio tupiniquim, nos EUA, uma dessas inteligências vetou Herman Melville e o seu Moby Dick com a advertência de se tratar menos de um romance que de um manual de caça às baleias. Não vale a pena insistir.
Estou contemplando um archote de ferro marchetado enquanto atendo o telefone. A obra feita sob encomenda, do artista espanhol Dom Pablo combina com o mobiliário rústico. Formou-se uma teia na luminária que não deixo a faxineira mexer. Aquilo já faz parte da decoração, um tanto bruxuleante, lembrando um cenário de alguma obra do Edgar Allan Poe, me faz bem, afinal quem não quer morar num cenário que lembra algum escritor que se admira?
Observo quando o inseto de asas longas cai na armadilha. Noto que a aranha se aproxima. Aquilo me deixa inquieto e o meu filho percebe que não estou prestando atenção no que ele está dizendo e afirma que liga mais tarde.
Tiro o animalzinho do emaranhado e ponho-o são e salvo em cima de uma mesa em frente.
Logo depois, ele volta a ligar lembrando de algo que não tinha dito e digo que libertei o bicho, ele ri e desliga.
Vou ao banheiro, alguns metros distantes dali, lavar as mãos. Uma estranha sensação de leveza me acompanha. Salvar uma vida era o prêmio para a boa ação do dia. Estou de pijama, sem camisa, preparando-me para ler o “Alabama Song”, de Gilles Leroy (recomendação do Raul Caldas Fº) quando sinto algo inesperado grudando em minha pele. Num gesto instintivo de proteção e repulsa bato com a mão espalmada tentando afastar aquele desconforto. Para surpresa minha, enquanto me curvo para ver o que tinha abatido com tamanha determinação e levo um susto: era o mesmo inseto alado que havia salvado segundo antes da voracidade predatória da aranha.
Movido por absoluta compaixão, apanho aquele corpo, agora sem vida, contemplo-o sobre a minha mão esquerda e constatando que nada havia para ser feito, aprendo mais alguma coisa sobre a existência: tudo na natureza tende ao equilíbrio nós é que quebramos essa harmonia. Sim, quando tirei o inseto da teia não pensei na sobrevivência da aranha, afinal eram duas vidas, ambas poderiam ser salvas, mas tinham fins diferentes e eu não deveria brincar de ser Deus para determinar qual era o destino de cada um deles.
Cleber deixou um novo comentário sobre a sua postagem "A volta do Olsen Jr.":
Aristocrático demais!!!
O título aí foi emprestado de Monteiro Lobato. Aliás, o autor voltou para as primeiras páginas depois que alguém do governo viu uma ponta de racismo em uma de suas obras infantis e tentou proibi-la. O obscurantismo não é privilégio tupiniquim, nos EUA, uma dessas inteligências vetou Herman Melville e o seu Moby Dick com a advertência de se tratar menos de um romance que de um manual de caça às baleias. Não vale a pena insistir.
Estou contemplando um archote de ferro marchetado enquanto atendo o telefone. A obra feita sob encomenda, do artista espanhol Dom Pablo combina com o mobiliário rústico. Formou-se uma teia na luminária que não deixo a faxineira mexer. Aquilo já faz parte da decoração, um tanto bruxuleante, lembrando um cenário de alguma obra do Edgar Allan Poe, me faz bem, afinal quem não quer morar num cenário que lembra algum escritor que se admira?
Observo quando o inseto de asas longas cai na armadilha. Noto que a aranha se aproxima. Aquilo me deixa inquieto e o meu filho percebe que não estou prestando atenção no que ele está dizendo e afirma que liga mais tarde.
Tiro o animalzinho do emaranhado e ponho-o são e salvo em cima de uma mesa em frente.
Logo depois, ele volta a ligar lembrando de algo que não tinha dito e digo que libertei o bicho, ele ri e desliga.
Vou ao banheiro, alguns metros distantes dali, lavar as mãos. Uma estranha sensação de leveza me acompanha. Salvar uma vida era o prêmio para a boa ação do dia. Estou de pijama, sem camisa, preparando-me para ler o “Alabama Song”, de Gilles Leroy (recomendação do Raul Caldas Fº) quando sinto algo inesperado grudando em minha pele. Num gesto instintivo de proteção e repulsa bato com a mão espalmada tentando afastar aquele desconforto. Para surpresa minha, enquanto me curvo para ver o que tinha abatido com tamanha determinação e levo um susto: era o mesmo inseto alado que havia salvado segundo antes da voracidade predatória da aranha.
Movido por absoluta compaixão, apanho aquele corpo, agora sem vida, contemplo-o sobre a minha mão esquerda e constatando que nada havia para ser feito, aprendo mais alguma coisa sobre a existência: tudo na natureza tende ao equilíbrio nós é que quebramos essa harmonia. Sim, quando tirei o inseto da teia não pensei na sobrevivência da aranha, afinal eram duas vidas, ambas poderiam ser salvas, mas tinham fins diferentes e eu não deveria brincar de ser Deus para determinar qual era o destino de cada um deles.
Aristocrático demais!!!
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