sábado, 1 de outubro de 2011

O dia em que a Morte visitou o Jornal Impresso


- A Morte me visitando?
- A Morte. Nunca ouviu falar?
- Porra, claro que sim. Mas por que hoje, agora?
- Porque é a sua vez, ora. Todo dia visito alguém.
- A senhora vai me desculpar, mas hoje eu não estou pra brincadeira.
- Posso ao menos entrar? Podemos conversar com civilidade?

(Minutos depois, ambos tomam um café na sala)

- Sabia, dona Morte, que a senhora já me visitou antes?
- Ah, é? E quando foi? (colocando o adoçante)

- Quando inventaram a televisão.

- Mas isso faz muito tempo. Devia ser outra Morte. Eu estou no ramo há 15 anos apenas.
- Que seja. Mas era a Morte. A televisão vai acabar com você, me ameaçou. Hora de ir, de descansar. E cá estou eu, vivinho da silva.

- Eu não vim aqui para discutir o passado. O que me importa é o hoje. E hoje eu tenho ordens para te levar. Entendo que ninguém quer ir, mas é o meu trabalho.

- Pior que até sei a justificativa desta vez.
- A razão está aqui, no mandado de busca.
- Então, leia. Só para confirmar minha suspeita.

- Causa: pre-fe-rên-ci-a do pú-bli-co pela no-tí-ci-a na in-ter-net.

- Putz, que falta de originalidade! A velha história de que uma nova tecnologia de comunicação vai decretar o meu fim.

 
- Já disse, só cumpro ordens.

- Lamento, mas a senhora se deu mal. Pode acabar o seu café, levantar e ir embora.
- De mãos vazias, eu não saio.

(Silêncio)

- Bom, dona Morte, podemos negociar então?
- Podemos, mas não me venha com a merda do jogo de xadrez que isso é a coisa mais clichê que existe.
- Claro, sem jogo de xadrez. Também sou contra o clichê, embora viva cheio deles.

- Quero que você me dê três bons motivos para não ser levado. Se forem convincentes, deixo você viver por mais um tempo.
- Três?
- Isso, só três.
- Mas assim, pá-pum, sem pensar?
- Pá-pum! Estou dando a você a chance de salvar essa sua pele cheia de tinta. E não vale falar do feirante que enrola peixe, ok? Isso não é argumento.

- Bom, senhora Morte, digo que aceito sua proposta, mas peço 24 horas para responder. É justo, não? Quero fazer a coisa bem-feita.

 
- Amanhã à tarde, estou aqui. Sem atraso.

(E a Morte foi embora. Mal fechou a porta, ele correu para o escritório, abriu seu notebook e tratou de jogar a frase “razões para o jornal impresso não morrer” no Google


Do Desilusões Perdidas

Nenhum comentário:

Postar um comentário