O padre Almeida foi um paulista de grande coração e riqueza. Ajudou frei Galvão, mandou fundir 100 penicos de prata e sua memória serve à invocação do próprio São Frei Galvão, que com seus milagres pode realizar a salvação do Corinthians e do Brasil
Claudio Lachini
Editor Sênior
Economia Interativa
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O padre Guilherme Pompeu de Almeida, secular paulista, foi o maior abastecedor das Minas Gerais, tanto de prendas quanto de prebendas, que vendia aos mineradores. Enricou tanto que, conta Roberto Pompeu de Toledo em seu livro “A Capital da Solidão – uma história de São Paulo das origens a 1990″, sua casa paulistana tinha 100 quartos, nos quais hospedava Deus e o mundo.
Debaixo de cada cama dos 100 quartos mobiliados havia um mimo especial para os hóspedes de tão santa figura: penicos de prata, 100 de contados, que sua reverendíssima mandara fundir nas minas de Potosi, no vice-reinado espanhol do Perú. Padre Almeida foi dos mais ricos mineradores sem nunca ter posto os pés nas Gerais. Ele emprestava dinheiro a juros, afora traficar escravos e atender aos aventureiros em tudo do bom e do melhor que desejassem. Para isso, tinha uma rede de informantes e negociantes espalhados pelo mundo.
Padre Almeida gostava de mulheres e deixou uma filha reconhecida, que casou bem, embora não lhe tivesse feito herdeira. As Ordenações do Reino proibiam herdeiros ditos bastardos. E a filha do padre seria, que me corrijam os doutos , uma bastarda da Igreja Católica, que usufruiu dos bens e da sagacidade do reverendo em vida e depois de sua morte. Naquele tempo “a mulher do padre” estava ainda distante da sociedade de consumo e se dizia que um bom sacerdote havia casado com a Santa Madre, assim como uma freira tinha por esposo Jesus Cristo.
Os paulistas do século XVII vasculharam seu imenso território e descobriram ouro
aos montes, primeiro na que viria a se chamar Vila Rica, lá onde
ficavam as minas gerais, porque as havia de outros metais, depois, no
século XVIII, em Mato Grosso e em Goiás, coisas do Anhanguera, tanto o
pai quanto o filho, assim chamados pelos índios porque tinham a ver com o
capeta. Ameaçavam botar fogo na água por qualquer dá aqui aquela palha.
Na verdade, queimavam álcool, essa vocação de boca e de escapamento
nacional!
Naquele tempo aurífero o padre Almeida já
obrara seus penicos de prata, e do metal deu ajuda a seu confrade, o
frei Galvão, necessitado de obras pias para umas filhas de Maria que de um
convento careciam, a fim de alojar moças prendadas, para as quais não
tinha freguesia. Aquilo que era padre, minha gente! Dava ele razão ao
dialético Santo Agostinho, para quem o mal trazia dentro de si o bem e o
bem dentro de si o mal.
E tantas fez o frei Galvão que
hoje é Santo Antonio de Sant’Ana Galvão, fundador do convento da Luz, e
talvez único posto em milagres capaz de salvar a candidatura de José
Serra à Presidência da República. Que se cuide o candidato natural de
São Paulo, porque frei Boff anda dizendo que Marina Silva e Dilma
Roussef foram ungidas pela mãe Terra, e uma delas será capaz de fazer salvamentos dos quais os homens se mostraram incapazes. Uma ou as duas, que frei Boff é pessoa de até o papa enfrentar.
Em tempos tão bicudos e em
eleições tão marretadas, venho aqui propor que se crie o troféu “Penico
de Prata”, a ser conquistado para quem doar uma certa e supimpa quantia
de dinheiro à construção do estádio do Corinthians Paulista. Se se perde
a abertura da copa, que será do restante da casa? E se a dita abertura
for para Minas Gerais, como foram os Emboabas a guerrear, que nos
restará? Valha-nos São Frei Galvão, suas pílulas de papel e
os penicos de prata do reverendo Almeida! Se os cariocas, ou em
território da CBD, derreteram a taça Jules Rimet, que se cuidem dos
penicos de tanta conta, troféus lídimos de um país onde primeiro vicejou
o “samba do crioulo doido” e agora estampa-se a crônica das evocações
tresloucadas, na qual a Leopoldina virou um entreposto onde se come sopa
de cebola.
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