domingo, 27 de maio de 2012

A República caiu

    Por Marcos Bayer

    O noticiário dos últimos dias mostra como a República Federativa do Brasil apodreceu. Afora algumas migalhas Keynesianas para conter a asfixia da desindustrialização, entre elas a redução do IPI na aquisição de automóveis, nosso sonho individual depois das carruagens e carroças medievais, as notícias revelam as gravações entre tudo e entre todos.
    Um deputado federal catarinense já disse, em público, que quando alguém é submetido a “escuta” telefônica, descobre-se até o que a vítima não sabia.
    A República está nas mãos de um cidadão chamado Carlos Cachoeira. Ele “grampeou” e foi “grampeado”. Tinha nas mãos um senador aparentemente exemplar. Um senador, antes promotor de justiça, cujo desempenho parlamentar dava esperanças e exemplo à nação.
    De repente, surgem outros fatos de vital importância política. O professor Ildo Sauer, especialista em estratégias energéticas e diretor da Petrobrás, é demitido e anuncia: Lula, com conhecimento de Dilma, deram mais cinco poços à iniciativa privada. Um a mais do que FHC. Aquele da “privataria” como foi chamado então. Dois ministros dele, Pedro Malan e Ropolpho Tourinho foram assessorar Eike Batista, com ajuda de José Dirceu, outro híbrido.
    O Eike Batista ficou bilionário com o que recebeu no pré-sal. E diz que não existe empresário competitivo no Brasil. Na Alemanha não duraria dois anos vendendo salsichas, muito menos produzindo salsichões. Sobre o Zé Dirceu não há o que falar. Um homem que esconde da própria mulher sua identidade, não é fiel nem a si. Logo, a nenhuma outra ideia.
    Por último, estas conversas reservadas entre o Lula e o ministro Gilmar Mendes, no escritório de Nelson Jobim, apontando a necessidade de adiar a votação do chamado “mensalão” no STF, em nome da estabilidade política nacional, usando como argumento Berlim.
    Ora Berlim é capital da Alemanha, hospeda a estudante filha do ministro e é naquele país que nasceu a senhora Jutta Fuhrken, mãe do Eike Batista.
    Estão desviando o foco da conversa com se diz da rotina jornalística. A questão não está em Berlim ou na Alemanha.
    A questão está na Petrobrás, na Agência Nacional do Petróleo, no Senado Federal, no Supremo Tribunal Federal e na Presidência da República.
    Quando os Três Poderes e a maior empresa brasileira se juntam por vias transversas, ou é tudo mentira, ou República caiu.
    Vivêssemos no parlamentarismo, as eleições seriam para daqui a trinta dias.

Um comentário:

  1. A especialização de enganar o povo, muita aprendida dentro de algum sindicato para escamotear os atos no duro regime, é estendida a largos passos em pouco mais de uma década, mas agora o negócio é encher os bolsos para ganhar poder. Ontem beirava o romantismo da democracia e hoje impera o marketing dessa ainda desejada forma de governo. Ficam os espertos e o povo continua povo, apenas. Já não se fazem mais (república das) bananas como antigamente. Que o diga o filho do Eliézer, um do passado comprando usinas nucleares na Alemanha, aliás, compras reativadas pouco faz, juntando com o petróleo. Dinheiro não faltará nas campanhas, mas ética, ah, essa faz tempo não haver.

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