O bucolismo dói

Sei que vou ser malhado principalmente por algum leitor do centro nervoso de São Paulo, mas tenho que desabafar. Não estou aguentando, nesta manhã, o piar e cantar das aves do meu pátio e alhures. Cedo, lá pelas 6 horas foram as Arucuãs com aquele trinado estridente e variado. É uma contorcionista do piado!
A histeria começa cedo. Tem um bando que inicia a sessão de cantoria e parece vir da Ilha do Campeche, a mil e seiscentos metros de distância. Vem de longe e logo encontra resposta...ao lado da minha janela. Sempre levanto às 6:40 mas tive que saltar mais cedo da cama, abrir a janela e ficar observando duas aracuãs caminhando no tronco do Garapuvú. Bonito né dona Aracuã?! (pensei meio irritado).
Tomei um banho, desci, liguei o lap-top, preparei o café e comecei a ler o Gay Talese - Fama & Anonimato - em um inusitado perfil de Nova York. A manhã já estava calma. No primeiro gole de café com um capítulo a meio cérebro...começaram as Gralhas azuis. Aí é demais!!!!
Pô, as gralhas não são fracas e disputam pau-a-pau com as Aracuãs, com a diferença que são mais insistentes. As Aracuãs desaparecem depois do primeiro ato matinal, as Gralhas ficam fazendo um alarido e justo na casa do Bakunin, meu pastor alemão, que não tá nem aí para a invasão da sua moradia e divide de bom grado a ração com essas aves de arribação. Voltem para Lages suas gralhas!!!
Fica difícil a concentração. Para mim é quase impossível, principalmente porque tenho o péssimo hábito de escutar e dar fé de tudo ao mesmo tempo. Como coadjuvantes desta sinfionia matinal ainda temos os bem-te-vis, os tico-ticos, pardais e outras aves de menor importância nesta aurora festiva.
Bem, parece que a gralhas estão se afastando. São aves irriquietas. Pulam de galho em galho, frenéticas, em bando, parece que estão trazendo um mensagem urgente e depois se vão. Finalmente!
Consegui sair do capí...começou agora um pica-pau!!!! Dois!!! Para quem não conhece o cantar desses picadores de pau é tão estridente quanto o de uma gralha. E pior, depois que param de se comunicar em altos brados, feitos uns mal educados, começam a picar o tronco e a princípio o que parece uma coisa sutil e sonora rapidamente se transforma em um som retubante dentro da cabeça.
Lá se foi o Guy Talese! Esse também estava um pouco chato com aquele monte de informações em série e números como se fosse uma estatística descritiva do cotidiano das pessoas!
Para completar, um pássaro de ferro em voo razante (estou na rota do aeroporto) com aquele som de trovão, mistura tudo dentro do meu cérebro e tenho que começar a classificar tudo de novo para saber de que pássaro era aquele canto que está estacionado no meu lóbulo frontal!
Assim não dá! Assim não dá!