Intelectual prêt-à-penser
Tome uma frase qualquer da obra de Bertolt Brecht e use como epígrafe. A seguir, escolha um tema aleatório, independente de sua relevância, e dê um jeito de relacioná-lo com a luta de classes, empregando o tempo todo um tom de denúncia, se possível temperado com alguma profecia revolucionária. Adicione uma pitada de psicanálise, duas colheres de chá de semiótica, polvilhe quatro ou cinco trocadilhos e mexa bastante para desarticular a sintaxe, produzindo parágrafos incompreensíveis que dêem aparente densidade à mistura. Para aumentar a consistência, cite Marx, Gramsci, Althusser e Derrida, despejando ao mesmo tempo alusões a Roberto Schwarz, Marilena Chauí e Florestan Fernandes, de modo a garantir um sabor brasileiro. Enrole bem e deixe descansar numa gaveta durante no mínimo quatro semestres. Em seguida, leve à banca examinadora previamente conchavada com o seu orientador e simule um debate por duas horas. Depois de obter o seu diploma de mestre ou doutor, sirva uma festa para professores e colegas num bar da Vila Madalena. Pode parecer brincadeira, mas é essa a fôrma das teses cozinhadas em escala industrial no Gulag do Butantã, conhecido também como Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. E são seus autores e mentores, esses estelionatários da inteligência, que fazem a cabeça dos jornalistas culturais da capital paulista. Haja estômago!
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