(E curta reflexão sobre a instalação de usinas nucleares)
Por Emanuel Medeiros Vieira
O carnaval, pelo menos na Bahia, virou a celebração do “apartheid” e da segregação. Os cantores famosos que já ganham rios de dinheiros, ganharam mais. Como observou Emiliano José, são vários os “apartheids” da organização do carnaval em Salvador nos últimos anos.
Os “cordeiros” (as pessoas que seguram as cordas dos blocos, onde entram quem pode pagar os abadás) são submetidos a um regime de trabalho semi-escravo – são “negros convertidos em guardiãs dos brancos bem nascidos, protegidos por cordas”. São obrigados a sustentar as cordas, afastando a multidão a que eles mesmos pertencem. Resumindo: de um lado, a multidão de fora das cordas. De outro, os que pagam proteção e brincam no interior das mesmas.
Reconheça-se o esforço do Ministério Público para diminuir a exploração. Mas a segregação não desaparece. Como observou o jornalista citado, “há turistas que chegam aos hotéis, embarcam nos ônibus, descem protegidos por seguranças, entram nas cordas, e dali voltam para suas camas, sem sequer interagir com Salvador, com a complexidade da cidade.” Com esse tipo de privatização do espaço que deveria ser de todos, com privilégio para tais blocos, o chamado folião “pipoca” é marginalizado.
Os camarotes representam outro tipo de “apartheid”. Uma platéia da dita elite vê o trio elétrico passar, e paga alto para fruir o espetáculo. Muitos que participavam de blocos de rua e combatiam a ditadura, agora estão nos camarotes. Preferem terceirizar responsabilidades (ABANDONANDO OS APOSENTADOS E O FUNCIONALISMO PÚBLICO COM SEUS SALÁRIOS DE FOME), e culpar Obama por tudo o que de ruim acontece.
Quem conhece um pouco de Freud, sabe que tal postura poderia ser qualificada de “mecanismo compensatório”, álibi ou truque mental para não assumir as próprias responsabilidades.
Não é má vontade. É só ler os jornais. Os que foram eleitos para combater a funesta herança carlista, hoje estão aliados a muitos remanescentes da ditadura. Mas conheço antecipadamente a reação de vários petistas e simpatizantes camuflados ou envergonhados: culparão o mensageiro (o autor destas linhas) e não a mensagem (o modelo de governo).
É como culpar o termômetro pela febre.
Oferecem circo (o pão é pouco...), e o governador dito “progressista” quer a todo custo instalar uma usina nuclear na Bahia, mesmo com o “apocalipse” japonês.
O carnaval virou também virou espetáculo televisivo. Alpinistas sociais e atores de segunda querem a todo custo aparecer. Mesmo cantores conhecidos, não criticam tais jogadas. Ficam quietos para ganhar mais dinheiro. Afastaram-se da Bahia real.
Repetem os estereótipos para turistas, e negam as raízes. Não querem misturas. Esquecem-se que Salvador é uma cidade de maioria negra. Nos camarotes, “os palácios se reproduzem em ambientes cinematográficos, devidamente aromatizados, a depender do gosto do freguês, o ar condicionado evitando ou minimizando o suor.”
Que um dia, no carnaval da Bahia, as cordas sejam abolidas e as praças e as ruas sejam do povo.
E que voltem os verdadeiros blocos de rua*
*O governador da Bahia, Jacques Wagner, se lesse as minhas linhas, provavelmente, logo as desqualificaria. Ele chamou de besteirol um belo texto do baiano João Ubaldo Ribeiro, contra a ponte Salvador-Itapirica.
Governador: desista da instalação de uma usina nuclear na Bahia!
Infelizmente, vários amigos (que, no seu íntimo sabem que eu tenho razão) não vão me apoiar. Dirão que é “jogo da direita”. Como se usina nuclear fosse algo bom para o socialismo e a esquerda!
Como escreveu Janio de Freitas, “só mesmo a irracionalidade dos racionais para continuar espalhando usinas nucleares em seus países. O Brasil, é claro, vai para Angra3 e planeja mais”.
(Salvador, março de 2011)
Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "CARNAVAL DA SEGREGAÇÃO": Excelente! Como sempre preciso.
Só é bom lembrar do "racismo às avessas" dos Filhos de Ghandhi, onde branco não entra. Bom, mas ai é manifestação cultural, ai pode!
Só é bom lembrar do "racismo às avessas" dos Filhos de Ghandhi, onde branco não entra. Bom, mas ai é manifestação cultural, ai pode!
Excelente! Como sempre preciso.
ResponderExcluirSó é bom lembrar do "racismo às avessas" dos Filhos de Ghandhi, onde branco não entra. Bom, mas ai é manifestação cultural, ai pode!