quarta-feira, 30 de março de 2011

Primeira noite em Nizza

Publicado originalmente em 26 de janeiro de 2010. Mais disso aqui.


Queridos leitores,
acabo de chegar da minha primeira incurssão noturna em Nizza. Aí são as 00:28hs, aqui 3:30hs. Foi bom pero no mucho. Saí de casa às 2 da madruga depois de abrir a mala dos presentes para minha neta que só chegou hoje (a mala).
Frio seco, coloquei uma campera e me larguei em direção à Avenue Gambeta. Termina na Promenage des Angles, a beira mar daqui.
Na saida senti que a coisa não ia render muito. Sempre que viajo gosto de provar coisas do lugar como bebida, comida e relações humanas. Andar à noite, quando os puros estão dormindo, é uma excelente forma de conhecer uma cidade. Melhor ainda se não conheces o idioma. As pessoas se traem pelos gestos.
Bem, andei até a Rue de France e encontrei uma gordinha de preto, aqui todos usam preto no inverno. Fazia ponto na esquina. Perguntei:

-Hablás español?
- Sí, soy de Buenos Aires

Me senti em casa. Uma porteña, que na verdade era um porteño bem ajeitadinho, e que poderia me dar uma informação.
Queria saber onde, naquela hora, poderia tomar uma cerveja e ver gente. Me disse que era difícil mas que seguisse por Rue de France uns 15 minutos encontraria uma praça e que ao redor deveria ter algum bar aberto.
Engatei um primeira e larguei. Ninguém na rua. Encontrei a tal praça e apenas um pub estava aberto. Cheio de jovens na rua em frente. Tentei entrar mas o preço era 15 euros de consumação mínima. Não era para tanto. Perguntei sobre outro bar e me indicram algo como a três qudras de distância.
Sempre perguntava, em um francês sofrível, se era seguro. Na maioria das vezes não entendiam a pergunta. Jamais relacionavam com insegurança no sentido de assalto ou crime. Achavam que eu queria confirmação "segura" da informação. Não existe a paranóia de andar de noite pelas ruas de Nizza.
Bem, não encontrei nada aberto. Logo avistei um caminhão de lixo naquele frenessi habitual de correria, gritos e arrancadas em primeira marcha.
Só fiz o gesto e perguntei:
- beer?
Eles que andam por todas as ruas saberiam me dizer se existia algum bar aberto. Não existia!
Puêrra! É pior que o Campeche!
Tudo bem, voltei para casa pela Promenage des Angles. De repente...um cassino!!!!
A noite estava salva!
Entrei e falei:
- Je sui brasilian

Me pediram o passaporte e entrei. Algumas mesas de roleta, duas de bacará (blanco y negro) e uma infinidade de maquininhas caça níqueis. Tava feita festa.
Bobagem. Máquinas sem nenhum sentimento. Mecânicas, apenas mecânicas. Diferentes dquelas que o Içuriti Pereira mantinha em Santa Catarina, controladas pela Codesc e que bancou campanhas políticas do PMDB.

Aí em SC ao menos se colocava créditos na máquina e dava o start e travava uma coluna duas ou todas. Tinhas a sensação de que estavas jogando. Daí o velho ditado de jogador:
Se perdendo é bom imagina ganhando!

É claro que jogo bancado ganha a banca. Mas "interagir" com máquina é parte emocional e importante da perca. Não gostei da, digamos, franqueza do cassino. Achei de um frieza atroz.
Quando estava saindo e fui pegar a minha campeira no chapeleiro vi uma foto grande de um senhor na parede. Perguntei a um dos seguranças quem era.
Me respondeu em francês e não entendi direito. Percebi que se esmerava em falar sobre o personagem com certa ternura.
Percebendo que eu não estava entendendo, captva apenas a emoção, a senhora que me alcançou a campeira me disse:

- Le big boss!

- Ah! O dono? perguntei.
E os dois ao mesmo tempo fizeram gestos de que sim, era o dono, mas estava morto. O porteiro, mais bronco, colocou as duas mãos ao lado do rosto e fez gesto como se ele estivesse dormindo. A senhora me explicou que já tinha morrido.

Tudo isso com uma certa ternura pelo patrão. Ternura que não encontrei nas máquinas.

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