quinta-feira, 10 de março de 2011

O BOI ESTÁ SOLTO

Desenho do ilustrador Samuel Casal

O escritor Lima Barreto era contra o futebol. Criou até uma liga para reprimir o esporte. Achava que era violento e facilitava o crime. Estava cheio de razão, o futebol é mesmo uma peste. Lembram dos hooligans ingleses que mataram um monte de gente provocando sururus em estádios? E quanta gente morreu na várzea disputando um pedaço de couro entre tiros e garrafadas? Mas nada disso tira o encanto do futebol, que cresceu e se consolidou como um esporte dentro da lei. Faz vítimas, mas não pode ser criminalizado.

Tourada então nem se fala. É uma sacanagem com os touros, empurrar aquelas espadas, fincar-lhes bandeirinhas afiadas, toureá-los com uma capa vermelha. É uma tortura a céu aberto, nas fuças de todo mundo, que aplaude a grande arte ibérica da tourada. No Brasil esse era o esporte favorito antes dos ingleses trazerem o biroço d´além mar e criar uma espécie de elite esportiva em que só brancos ricos entravam. Imediatamente, a bagacerada pegou a sobra dos lances que expulsavam a bola para fora dos estádios e começou a chutar a esmo pelos arrabaldes, o que gerou o futebol brasileiro, como conta Mario Filho em seus textos inesquecíveis.

Imaginem Pamplona sem aquela corrida de touros em que todos cometem suicídio coletivo se atirando na frente de touros furiosos. Já existe até um movimento para acabar com a festança, mas talvez não cole. A cidade ficou famosa por sua farra do touro e ainda não existe força suficiente para evitar que ela aconteça. É diferente daqui, onde a tourada foi esquecida e hoje sobrevive em algumas lugares, como no litoral catarinense. O pessoal se reúne na época da Páscoa e faz do boi uma espécie de Judas, como arrisca dizer a Wikipédia. Mas, como no futebol, se  cometem excessos.

Em função dos energúmenos que torturam o boi , proibiu-se toda a prática. Você não acaba com uma tradição, um hábito de gerações, com fundas raízes na época colonial e que mantém viva a vontade de transgredir, como acontece no carnaval. Imaginem se todo o esforço em acabar com o carnaval, como aconteceu no início, desse certo. Teríamos até hoje algo pulsando forte abaixo do piso da nação.

Mas o carnaval, como o futebol e as touradas de Madrid, sobreviveu e hoje faz a alegria de um monte de gente. Criminalizar toda a Farra do Boi e não apenas seus excessos é erro grave. De mais a mais, o povo é invocado e vai continuar farreando. Não fazem farra em Brasília e fica por isso mesmo? Ara.  Porque liberam a Farra do Homem Vestido de Mulher e reprimem a Farra do Touro Eunuco?  Não é um caso de polícia. A Farra do Boi poderia ser liberada e monitorada, como o Carnaval e o Futebol, que quando soltam os freios fazem vítimas. Torturar o boi ou invadir e destruir casas não podem ser ações permitidas. Mas a tourada dentro de limites deveria ser atração turística .

Por enquanto fica o rolo. O povo insiste na tourada não só por hábito, mas para implicar e contrariar. O boi está solto.
 
 L.A. deixou um novo comentário sobre a sua postagem "O BOI ESTÁ SOLTO": Gostei muito do Post, me levou a reflexão e até a sonhar,o certo seria,e espero estar vivo um dia prá ver o povo correndo do boi dentro de mangueirões, numa grande festa, Tipo CTG, ou CTN, mas em Centros de Tradição Açorianas, enaltecendo a cultura do Litoral Catarinense, com musica, culinária, vestimentas, folclore dos manezinhos do nosso litoral, tudo dentro da lei ( porque tudo que tá fora vira bagunça, maus tratos, destruição de patrimônio, etc.. como descrito nesse post), daria até pra ganhar dinheiro como nos rodeios, sem maltratar o boi, só atiçar ele pra poder correr, como ocorre nas ilhas dos açores com o touro na corda. Com fiscalização sem marginalizar algo tradicional e visceral da cultura açoriana.
Tradição é tradição os forasteiros que dizem que é crime, não conhecem e jogam pedras, eles deveriam voltar para terra deles e cuidar do quintal deles, não do nosso, todo ano é essa história metendo o pal na brincadeira, em quanto isso, rodeios, gineteadas, vaquejadas pelo Brasil a fora são aplaudidos (faturam milhões inclusive com patrocino do estado). E o engraçado é que os ecochatos não aparecem, só quando é farra daqui.
Que força obscura é esse que quer dizimar a identidade de um povo (que torna crime suas praticas e ridiculariza sua cultura, sotaque etc..) a monopolizadora da comunicação em SC contribuiu para que a farra fosse crime, não contribui para valorização da identidade dos nativos do litoral catarinense, invés disso passa um tal de galpão criolo na TV. Porque o Amim foi contra a brincadeira no período que foi governador ( que interesses que ele tinha), porque essa perseguição com uma pratica que cruzou séculos, Porque invés de perseguirem não procuram entender e aceitar nossas singularidades, porque não legalizam de um vez!
Por quê?
Em quanto isso, Sorrrtá o Boi!
Ah! Não tenho nada contra a Polícia, e o papel dela é cumprir a lei, e a lei é proibir a prática, mas um dia quem sabe, essa lei absurda não é extinta, essa lei que não proíbe um crime contra os animais, e sim uma lei que proíbe os descentes de açorianos manifestarem uma de suas tradições, é uma mordaça que alguns forasteiros utilizam para sobrepor sua cultura na região. A lei nada mais é que um instrumento de poder. 

Um comentário:

  1. Gostei muito do Post, me levou a reflexão e até a sonhar,o certo seria,e espero estar vivo um dia prá ver o povo correndo do boi dentro de mangueirões, numa grande festa, Tipo CTG, ou CTN, mas em Centros de Tradição Açorianas, enaltecendo a cultura do Litoral Catarinense, com musica, culinária, vestimentas, folclore dos manezinhos do nosso litoral, tudo dentro da lei ( porque tudo que tá fora vira bagunça, maus tratos, destruição de patrimônio, etc.. como descrito nesse post), daria até pra ganhar dinheiro como nos rodeios, sem maltratar o boi, só atiçar ele pra poder correr, como ocorre nas ilhas dos açores com o touro na corda. Com fiscalização sem marginalizar algo tradicional e visceral da cultura açoriana.
    Tradição é tradição os forasteiros que dizem que é crime, não conhecem e jogam pedras, eles deveriam voltar para terra deles e cuidar do quintal deles, não do nosso, todo ano é essa história metendo o pal na brincadeira, em quanto isso, rodeios, gineteadas, vaquejadas pelo Brasil a fora são aplaudidos (faturam milhões inclusive com patrocino do estado). E o engraçado é que os ecochatos não aparecem, só quando é farra daqui.
    Que força obscura é esse que quer dizimar a identidade de um povo (que torna crime suas praticas e ridiculariza sua cultura, sotaque etc..) a monopolizadora da comunicação em SC contribuiu para que a farra fosse crime, não contribui para valorização da identidade dos nativos do litoral catarinense, invés disso passa um tal de galpão criolo na TV. Porque o Amim foi contra a brincadeira no período que foi governador ( que interesses que ele tinha), porque essa perseguição com uma pratica que cruzou séculos, Porque invés de perseguirem não procuram entender e aceitar nossas singularidades, porque não legalizam de um vez!
    Por quê?
    Em quanto isso, Sorrrtá o Boi!
    Ah! Não tenho nada contra a Polícia, e o papel dela é cumprir a lei, e a lei é proibir a prática, mas um dia quem sabe, essa lei absurda não é extinta, essa lei que não proíbe um crime contra os animais, e sim uma lei que proíbe os descentes de açorianos manifestarem uma de suas tradições, é uma mordaça que alguns forasteiros utilizam para sobrepor sua cultura na região. A lei nada mais é que um instrumento de poder.

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