sábado, 12 de março de 2011

Por que escrevemos ?

   Busco uma explicação para esta prática. Seria uma necessidade atávica de registrar o presente deixando pistas do nosso conhecimento para outras gerações, ou talvez um desejo compulsivo de se comunicar?
Não sei.
    Chego acreditar que a escrita vem dos sonhos. Observo a prática dos amigos que escrevem. Cada um parece ter um motivo diferente. Tem até os que não aparentam motivos. Mas todos escrevem. Sem parar.
    Ontem encontrei dois deles. Escritores com livros publicados. Mesmo quando a literatura sonha por partes obscuras e lodosas da vida humana escrevem com asseio. Escrevem bem. Dominam o léxico.
    Não pergunto porque escrevem. Não é necessário. A conversa naturalmente se encaminha para o escrever. Entre eles é uma escrita falada. Uma literatura comentada.


- Por que escreveria de graça? Vivo disso!

 
    Me pergunta o primeiro, justificando a negativa de colaborar com um jornal eletrônico. Será que escreve para comer? Pensei. Difícil para "aquários"! Come, e bebe, bem demais para quem vive das letras. Escreve com um primor que não seria somente para saciar a fome. Tem aí um porquê!
    O outro, pratica um tipo de lieratura solitária. Escreve sobre isso. Às vezes deixa transparecer que o ato de escrever é sofrido. Mas necessário. Necessário para quê? Em seu silêncio consegue ser eloquente, quando escreve.
Será que escrevemos para os outros? Ou escrevemos para nós? Será uma busca do reconhecimento público? Talvez a literatura seja um tipo de auto análise. Porém, a maioria dos escritores encontro nos bares. Lugar onde se faz análise direto. Inclusive em um desses bares temos até um analista. Não escreve, mas prescreve!
    Por que escrever então? Para passar experiências vividas? Leitores me dizem que quando relato uma viagem, ou um acontecimento, viajam comigo. Talvez seja a forma como escrevo. A construção da minha escrita é sempre precedida de uma narrativa mental. De um sonho. Estou sempre "sonhando" escrever o que vejo e o que vivo. Acho que escrevo como falo. Ou como sonho?

    Os comentário no blog são muito importantes. Será que escrevo para os leitores? Mesmo quando externo meus sentimentos? Talvez sim. Esse vai/volta de escritor/leitor, essa cumplicidade que acaba sendo construida alimenta o meu escrever.
Até mesmo anônimos conseguem ser íntimos e cúmplices. Não entendo muito bem quando leio um comentário assim:


-  Canga, você tem uma família maravilhosa. Parabéns! Assinado: Anônimo.

 
Vá entender!
Não sei porque escrevemos!
    Li que o romancista Michael Cunningham escreve de manhã, porque gosta de partir dos sonhos para a escrita. Que não escreve coisas em guardanapos para usar depois. Eu também não escrevo em guardanapos mas percebo que a minha literatura perde algo por não usar a técnica Olseana.
    Também gastei algumas décadas entre o amor e outras drogas. Agora tenho esta. Mas sobre a literatura e os sonhos somente Borges passeia fácil.


Um dia Borges sonhou que estava perdido num labirinto fechado. E que quando chegara ao centro do labirinto dera com um espelho armado. Só que o rosto que aparecia no espelho não era o dele, era de outro angustiado.
Respirou aliviado. Obviamente, o sonho era de outro coitado.
A partir daí passeou pelo labirinto despreocupado.


Por que escrevemos?


   Hoje, ao acordar, esta pergunta estava ali, martelando a minha cabeça. Ela já devia estar há tempos ali, sonhada, sem que eu percebesse. Estava dormindo. Quando acordei senti uma necessidade compulsiva de escrever sobre isso. Como se fosse fisiológica. 

Escrevi. Estou aliviado!


Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Por que escrevemos ?":
Que inveja! Eu também gosto, só não sei.

Um comentário: